Por Espiritualidade Em Formação

O fim da pandemia, do mundo, de uma era ou um novo modo de viver?




Para começar esse texto vou arriscar fazer a seguinte pergunta: Como você está?

Acredito que a resposta será: cansados, com medo, sem saber para onde ir, pode também estar em sofrimento decorrente do luto, pode estar se recuperando da pandemia, o sofrimento, a ansiedade e o medo estarão sempre entre as resposta e grande parte desses sentimentos estará relacionada ao fato de que, uma pandemia que se instalou e tornou a vida, nossa vida, vida de nossos familiares, amigos, colegas de trabalho em um pandemónio.

Pode parecer que estou fazendo um jogo de palavras entre pandemia e pandemónio, mas não estou, o mal está sempre relacionado. De forma alguma eu quero dizer que o que está acontecendo seja fruto do mal no sentido teológico ou religioso do termo, infelizmente é fruto de um vírus, que nos faz mal, maltrata nosso corpo, acabamos por termos nossa mente maltratada e deixamos de bem tratar nossa alma.

Deixe-me fazer uma revelação, se eu tenho alguma dependência é dependência da missa, como eu amo chegar cedo, ajoelhar e estar ali, em silêncio, sem nada dizer, nem nada fazer, somente estar ali, esses momentos para mim são preciosos.

Onde eu vivo, na Eslováquia, a pandemia também se instalou, fechou escolas, lojas, parques, teatros, cinemas, restaurantes e as igrejas. Com esse fechamento as missas não eram mais presenciais e sim virtuais, como eu senti saudades de ter meus joelhos no chão do solo sagrado da nossa Igreja, estar ali, em silêncio.

A missa virtual era o possível naquele momento, mas está longe de ser o ideal, eu percebi uma imediata mudança em meu comportamento, meu jeito de falar, fazer e tratar as pessoas, o que eu quero dizer com isso, estava sem nenhuma paciência, não desejava fazer nada, fui deixando de rezar meu rosário, de fazer minhas preces noturnas de fazer minha Lectio Divina.

É sobre isso que estou dizendo, meu corpo ficou ruim, minha mente ficou ruim e minha alma também. Quando me apercebi, pedi ao padre da minha paróquia se ele poderia receber minha confissão, passei a assistir todos os programas transmitidos pelos sites; Vaticano, Milícia da Imaculada, Santuário de Fátima, missas, Angelus, rezar o terço… Minha intenção foi direcionar minha mente as coisas do céu, tentar não focar em todas as dificuldades que a pandemia, estava, está e estará causando.

Essa situação, a qual ainda perdura em alguns países, como, dificuldades financeiras, caos na saúde, falência do estado, afeta nosso presente e futuro, nós perguntamos, será que teremos futuro? Será o fim do mundo? Eu posso responder que sim, temos futuro e não, não é o fim do mundo. Vivemos um período de mudança, o mundo como o conhecemos será mudado, para ser mais clara é como se estivéssemos com a cabeça em um foguete, mas nossos pés grudados na terra.

Naturalmente tal situação necessita de ajustes, se observarmos o desenvolver da civilização ocidental, observaremos quantas mudanças ocorreram, os homens e mulheres mudaram seu modo de viver e de sentir, tantas vezes e sempre acrescentaram novos modos de fazer e sentir, tornando a vida cada vez melhor, de forma alguma vivemos como nossos antepassados, para começar, temos as melhoras tecnológicas, a máquina de lavar roupa por exemplo, temos as melhoras sociais, os médicos, as escolas, o serviço do tratamento de água, mas, provavelmente alguém que esteja lendo esse texto vai pensar, sim, existe toda essa evolução, entretanto vivemos em um mundo onde a fome continua matando, a escravidão humana não acabou, a violência continua a existir.

É exatamente nesse ponto que quero chegar, nosso mundo tem de se transformar, melhorar, evoluir porque não oferta oportunidades iguais a todos, como justificar que uma criança possa carregar entre suas coisas diárias um aparelho celular que custa o salário mensal de uma pessoa, como explicar que uma criança não tem água e comida enquanto outras vivem como realeza. Como explicar que o chefe de uma empresa corte o convênio médico dos funcionários, no entanto, seu carro custa mais que o salário de todos os funcionários juntos. Como explicar o vestido e a bolsa da madame e o salário mínimo pago a sua funcionária. Acredito ou tenho esperança que as sociedades vão ser obrigadas a rever seus valores, mudar suas ações para que Todos Tenham Vida e Vida em Abundância (Jo 10:10).

Quando fiz minha consagração a Nossa Senhora Imaculada Conceição, aí na sede da Milícia da Imaculada, em um dos momentos em grupo, lemos e discutimos o Magnifica (Lc 1, 46:55) cantado por Maria em seu encontro com Isabel, e me lembro que perguntamos: quem são os poderosos, os ricos, os soberbos?

Hoje eu posso responder; somos nós, que em nossa esfera social, familiar e corporativa abusamos de nosso poder, não ofertamos abrigo a que não o tem, não ofertamos alimento a quem tem fome, não ofertamos amor a quem está abandonado. Somos nós que julgamos, agredimos física ou oralmente os que estão a nossa volta, somos nós que ao sairmos da missa, da oração do terço, o primeiro comentário será uma crítica a igreja, ao padre, aos músicos, aos irmãos em fé que estavam sentados ao nosso lado.

O texto de João (Jo 10:10) nos diz: “o ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância”. Talvez sejamos nós os ladrões, de amor, de recursos, sendo assim, devemos colocar o joelho no chão em oração, nos confessarmos e fazermos diferente, rezarmos como São Francisco o fez, Senhor fazei-me instrumento da vossa paz…, nessa linda oração o Pobrezinho de Assis nos apresenta a chave, o que é necessário para nos abrirmos há um novo modo de viver, deixarmos de acreditar que somos o umbigo do mundo, e tratar o próximo como a si mesmo (Mt 22:39).

Não é adequado ir a missa, ajoelhar, chorar, rezar, cantar e chegar no almoço de família gritando com os familiares. O próximo a que se refere o texto é o próximo de nós, aquele que está ao alcance de nossas mãos, são nossos filhos, esposo/esposa, pais, sogros, tios/tias, primos/primas... Como posso afirmar que amo a Deus e não cuido da obra-prima Dele que é o Ser Humano.

Eu acredito que essa pandemia será um divisor de águas no mundo contemporâneo, pois percebemos como somos frágeis, ricos e pobres, homens e mulheres, jovens e idosos, todos fomos afetados por essa doença, direta e indiretamente e não foram nossos títulos, nossa riqueza, nossa falsa superioridade social que nos protegeu ou não, todos estamos sofrendo.

Assim para encontrarmos um caminho de Salvação, devemos seguir os passos de São Francisco de Assis, que mantinha seu olhar fixo no Senhor e ofertou-lhe tudo o que tinha, o que era nada, não tinha riqueza, não tinha títulos, não tinha soberba, ofertou a Cristo o mesmo que Nosso Senhor Jesus Cristo ofertou ao Deus Pai, sua vida, e com essa oferta mudaram o mundo de sua época completamente, não somos o Pobrezinho de Assis, muito menos Nosso Senhor, mas somos obras de um Deus Amoroso, feitos a imagem e semelhança Dele, assim podemos fazer melhor, podemos cuidar do nosso irmão, do nosso próximo e podemos nos deixar ser cuidados, aí criaremos um novo mundo, um mundo sem exclusões, um mundo sem violência e sem desamor.

Aqui está a oração de São Francisco de Assis, quando se sentir triste, bravo, sem energia, reze com Maria um Ave-maria, reze um Pai Nosso com Nosso Senhor Jesus Cristo e com Deus Pai faça o sinal da Cruz e, com São Francisco cante:

Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor.

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.

Onde houver discórdia, que eu leve a união.

Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.

Onde houver erro, que eu leve a verdade.

Onde houver desespero, que eu leve a esperança.

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:

Consolar, que ser consolado;

Compreender, que ser compreendido;

Amar, que ser amado.

Pois é dando que se recebe.

É perdoando que se é perdoado.

E é morrendo que se vive para a vida eterna.

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