No trecho do evangelho de hoje, vemos os discípulos de Jesus submetidos a uma prova de fé. Eles atravessavam o Mar da Galileia com uma barca, à noite, quando surgiu uma tempestade.
O vento soprava tão forte que ondas enormes se formavam, sacudindo violentamente a barca e enchendo-a de água com risco de afundá-la. Naturalmente, os discípulos ficaram apavorados e foram acordar Jesus que, vencido pelo cansaço das longas pregações, dormia sossegado num cantinho nos fundos da barca.
O pedido de socorro que os discípulos dirigem a Jesus vem na forma de uma repreensão: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” (4,38). Então, Jesus se levantou e ordenou ao mar que se acalmasse. O vento cessou e houve uma calmaria completa. Os discípulos estupefatos perguntavam-se: “Quem é este que domina a fúria das ondas com a força da sua palavra?”.
A barca que faz uma “travessia” é uma metáfora muito expressiva da vida cristã e da vida humana em geral. Parte de uma margem para outra, exposta às condições atmosféricas. Às vezes, as águas são calmas, outras vezes turbulentas. Os ventos podem soprar a favor ou contra. Os riscos existem e podem ameaçar seriamente.
Igualmente, a vida de qualquer ser humano não é uma barca atracada num porto seguro. É, antes, uma barca em “travessia” sujeita aos riscos do trajeto. Quando tudo vai bem na vida, sentimo-nos navegadores habilidosos capazes de conduzir a própria embarcação com desenvoltura e segurança. Até rezamos a Deus e o invocamos, mas Ele parece uma figura desbotada, distante e sem importância decisiva para nós. Não temos coragem de dizer, mas, no fundo, sentimos que com Ele ou sem Ele seguiríamos nosso trajeto do mesmo jeito.
Quando, porém, surgem grandes provações, somos como os discípulos de Jesus. Damo-nos conta da precariedade da nossa existência, que se assemelha a uma barquinha a flutuar perigosamente em mar tempestuoso, ameaçada por ondas amedrontadoras.
Nesses momentos, sentimos medo e mal-estar porque experimentamos que não temos segurança e nos parece que o próprio Senhor está dormindo, sem se importar conosco. É em uma situação assim que os discípulos de Jesus são apresentados na passagem do evangelho de hoje. Sentindo-se ameaçados por ondas enormes, foram acordar Jesus em busca de socorro. Ele acalmou o mar revolto, porém os repreendeu pela falta de fé: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”.
A tempestade no lago se revela, portanto, uma provação para a fé. Nós, discípulos e discípulas de Jesus, não estamos a salvo das provações da vida. Como todos os seres humanos, estamos sujeitos a todas as “tempestades”. A fé não garante uma navegação tranquila o tempo todo. A fé garante uma navegação com o Senhor a bordo e que, às vezes, parece dormir.
Na cena do Evangelho, os discípulos vão acordar Jesus, mas não será que somos nós que precisamos nos despertar, reconhecendo-nos incapazes de nos salvarmos por nós mesmos e deixar espaço para Ele em nossa vida? Às vezes, temos de tocar com a mão a nossa fragilidade para nos darmos conta da centralidade do Senhor em nossa vida e nos entregarmos à sua graça. “Já é hora de nos despertarmos!” (Rm 13,11).
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