Não somente nós estamos em contato com o próximo, como também ele conosco e, em virtude disso, podemos ser prejudicados, ofendidos e feridos. E o que fazer diante do mal recebido?
A prescrição do Antigo Testamento, “olho por olho e dente por dente” (Ex 21,24), baseada na lei de Talião, era uma norma do direito para dirimir questões de agressão violenta e disputas interpessoais sob a tutela de um tribunal regular e não os deixar à mercê da raiva e do desejo de vingança. Jesus, porém, comunica uma norma inteiramente diferente: “Não resistais ao malvado!”. Não se deve colocar no mesmo nível de quem faz o mal, retribuindo mal com mal.
Citando exemplos de diversas situações da vida, Jesus afirma a necessidade de livrar coração de todo sentimento mal e espírito de vingança. Oferecer a outra face ao agressor, dar até a túnica a quem reclama o manto e andar duas milhas com quem quer obrigar que se caminhe com ele uma (cf. Mt 5,39-40) indicam o novo espírito que deve animar os cristãos, levando-os a abdicar radicalmente do espírito de vingança em todas as circunstâncias e não se trata, obviamente, de prescrições normativas a serem observadas literalmente. Pois, Jesus mesmo, na noite do julgamento, quando recebeu um bofetão em uma face, embora não revidando, não ofereceu a outra, mas simplesmente se exprimiu de maneira tranquila e objetiva: “Se falei mal, mostra em quê; mas, se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23).
A última parte deste trecho trata da questão mais difícil: o que fazer na relação com os inimigos declarados, cuja violência se manifesta impondo-nos diferentes modos de perseguição persistente? O Antigo Testamento não prega o ódio aos inimigos como norma de conduta, contudo, o exprime abertamente, haja vista os chamados salmos imprecatórios (cf. Sl 109, 6-20). Porém, a Boa Nova de Jesus exige o amor aos inimigos.
A maldição, com a qual se invoca a ruína deles, deve dar lugar à oração por eles. A atitude fundamental do discípulo de Cristo é o amor que só deseja o bem e o pratica efetivamente. Tal amor há de ser endereçado a todas as pessoas independentemente de como se comportem, espelhando-se unicamente no modelo de Deus-Pai que “faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos” (5,45). Deus é gratuito no seu amor. Gratuidade é a perfeição do amor. Perfeição, aqui, significa a liberdade do amor incondicional que toma a iniciativa de amar (cf. 1Jo 4,10), sem esperar resultados. A grandeza de Deus, portanto, não consiste na sua onipotência, onisciência, onipresença..., mas na qualidade do Seu Amor. É desse amor que Jesus se faz discípulo e o estabelece como cume e critério de todo o seu ensinamento: “Sede perfeito como o vosso Pai celeste é perfeito” (5,48).
Fonte: O Mílite
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