Lucas apresenta o batismo do Senhor com um cenário inteiramente próprio. O centro do episódio é a proclamação da identidade messiânica de Jesus por uma revelação celeste, testemunhada por numerosa multidão de judeus. O ato do batismo é ligeiramente mencionado e toda a atenção se volta para a manifestação divina: o céu se abrindo, o Espírito Santo descendo sobre Jesus, em forma visível de uma pomba, e a voz celeste proclamando: “Tu és meu filho amado, em ti me comprazo”.
Com isso, fica claro que o batismo que Jesus recebeu não é reconhecimento dos próprios pecados e pedido de perdão, como todos que eram batizados por João Batista. No caso de Jesus, o batismo manifesta sua vocação profética e sua missão de Messias enviado por Deus, como é confirmado pela voz divina e pela descida do Espírito Santo. É o momento de sua investidura, isto é, doravante, Jesus de Nazaré está confirmado como Messias e autorizado a iniciar sua missão pública de pregar o Reino de Deus.
A manifestação divina com a abertura do céu, ocorrida durante a oração de Jesus, além de testemunhar a íntima comunhão d’Ele com o Pai, indica que a comunicação entre o mundo de Deus e o dos seres humanos foi restabelecida.
Jesus é o Filho de Deus que caminha entre os seres humanos, movido pela força do Espírito Santo, presente n’Ele desde a concepção (cf. Lc 1,35). Assim, não só Jesus está envolvido em sua atividade pública, mas também o Pai e o Espírito Santo. A plenitude da graça salvadora de Deus tornou-se acessível mediante a missão de Jesus. Daí o testemunho de João ao declarar que seu batismo com água é apenas o ministério incompleto de um servo, indigno de desamarrar as correias das sandálias d’Aquele que batizará com o Espírito Santo e com fogo (cf. Lc 3,16).
Tal expressão pode indicar a comunicação do Espírito Santo que, em Pentecostes, descerá sobre os apóstolos em forma de línguas de fogo (cf. At 2,1-13), mas também que Jesus, como Messias Enviado, possui autoridade para realizar o juízo.
Ele vai realizar uma separação decisiva, recolhendo o trigo no celeiro e queimando a palha no fogo inextinguível. Isso significa que a missão de Jesus não é mais um anúncio profético entre outros. Nela culminou a revelação divina, que obriga todos a tomarem posição.
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