Lendo o Evangelho

Celebrar as ações que nos santificam

Por que a Solenidade de “Todos os Santos”?

Frei Aloísio, Ministro Provincial

Escrito por Frei Aloísio Oliveira

06 NOV 2022 - 00H00

Por que um dia para celebrar “Todos os Santos” se já existe, no calendário litúrgico, o dia de cada santo: dia de São Pedro e São Paulo, dia de São Francisco, de Santa Clara, Santa Rita...?

A Solenidade de Todos os Santos é uma das mais belas celebrações litúrgicas da Igreja, porque nos recorda que são santos e santas não só aqueles e aquelas que, por vários motivos, se tornaram conhecidos e foram proclamados Santos ao longo da história, mas também tantos irmãos e irmãs nossos que viveram sua vida cristã na plenitude da fé e do amor, no anonimato de uma vida simples, consumida nos afazeres diários.

De fato, quantas pessoas conhecemos que passaram a vida inteira, de modo muito simples e humilde, fazendo o bem aos outros com tanta renúncia de si mesmas? Quantas mães e quantos pais de família, talvez alguns deles até parentes e amigos nossos, que, ancorados na fé, gastaram a vida toda na rotina doméstica e na labuta do trabalho diário para criar os próprios filhos, passando penúrias e aflições de todo tipo? Quantas pessoas já encontramos na vida, cuidando de desvalidos: idosos, doentes ou outros, com total doação de si mesmas e sem esperar nada em troca? Temos alguma dúvida de que essas pessoas são realmente santas e estão juntas de Deus na comunhão de Todos os Santos?

Portanto, o que estamos celebrando, hoje, é a festa da santidade. Sobretudo, aquela santidade que, em geral, não se manifesta em grandes obras ou fatos extraordinários, isto é, a santidade das pessoas simples que souberam viver fielmente as exigências do batismo, ocultos na simplicidade da rotina diária. Como isso é belo! A santidade não se mede pelo ibope, não depende do índice de aprovação pública, mas da profundidade da transformação que o evangelho causou em nós. Nesse sentido, cabe-nos recordar o trecho do evangelho da liturgia de hoje: as Bem-aventuranças.

As Bem-aventuranças constituem a identidade do cristão que o distingue como seguidor de Jesus,pois o que Jesus proclama nas Bem-aventuranças é aquilo que Ele mesmo é. Por exemplo, quando Ele diz: “Felizes os mansos” (Mt 5, 5) está mostrando o seu retrato. Com efeito, noutra passagem mais adiante, Jesus diz: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29). A mansidão, portanto, é o conteúdo do coração de Jesus e vivê-la nos torna semelhantes a Ele, capazes de seguir seus passos, enfrentando sofrimentos e angústias no serviço e na doação aos outros, colaborando na construção de um mundo novo, com novas relações humanas e sociais permeadas das Bem-aventuranças. Nesse sentido, poderíamos assinalar novas situações para vivermos o espírito das Bem-aventuranças de forma concreta e atualizada: felizes os que suportam com fé os males que outros lhes infligem e perdoam de coração; felizes os que olham nos olhos os excluídos e marginalizados fazendo-se próximo deles; felizes os que reconhecem Deus em cada pessoa e lutam para que também outros o descubram; felizes os que cuidam da natureza, preservando a vida de todos os seres; felizes os que renunciam ao seu próprio bem-estar em benefício dos outros... Todos os que assim procederem serão portadores da misericórdia e ternura de Deus e construtores de um mundo de paz: serão santos e santas.

A celebração de hoje é um apelo a que não nos esqueçamos de que a vocação à santidade é para todos e não privilégio de alguns: “Sede santos porque eu sou santo” (Lv 19,2). Os Santos e as Santas todos não foram pessoas nascidas com a estrela na testa e que, por isso, superaram facilmente todas as dificuldades e provações e conquistaram a coroa da santidade. Todos os Santos e Santas, conhecidos e anônimos, de todos os tempos e lugares, foram pessoas em carne e osso, como nós, vivendo em tudo a condição humana. A diferença é que eles e elas se sintonizaram com o espírito das Bem-aventuranças e, por isso, encontraram um sentido fecundo para suas vidas e puderam oferecer uma resposta válida aos desafios dos tempos em que viveram.

 Justamente por serem tão humanos quanto nós, os Santos e as Santas são um testemunho e um encorajamento em nossa caminhada rumo à santidade. Pela intercessão de Maria Santíssima, Rainha de todos os Santos, sejamos abençoados nos nossos esforços e alcancemos a santidade que nos cabe como vocação e missão.

Fonte: O Mílite

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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