Por Frei Aloísio Oliveira Em Lendo o Evangelho

Jesus: graça e sabedoria de Deus entre os seres humanos




Esse trecho proclama a íntima relação de Jesus com Deus, a quem Ele chama de Pai (cf. Lc 2,49). Com efeito, sua inefável proximidade com Deus, que define a sua pessoa e constitui o eixo de sua missão, externa-se em seus relacionamentos humanos como “sabedoria e graça” (cf. Lc 2,40.52).

Essa característica fundamental é apresentada com a narração de um episódio ambientado no contexto da Páscoa, a mais importante celebração religiosa judaica. Como todo fiel judeu, José e Maria iam, em peregrinação, a Jerusalém todos os anos para a festa da Páscoa (cf. Lc 2,41).

Em uma dessas ocasiões, ao retornarem ao local de origem, o Menino Jesus, então com doze anos, ficara em Jerusalém, no Templo, a discutir com os mestres da lei, sem que os pais o percebessem. Pensando que o menino estivesse na caravana entre parentes e conhecidos, eles só constataram a ausência dele depois de um dia de caminhada. Então José e Maria, aflitos, voltaram a Jerusalém para encontrar o filho.

Após três dias de ansiosa procura, encontram-no sentado, no Templo, entre os mestres do judaísmo, que o ouviam encantados com sua inteligência e suas respostas (cf. Lc 2,46-47). Ao avistar o menino, a mãe se lhe dirige em tom repreensivo: “Filho, por que agiste assim conosco? Teu pai eu, aflitos, te procurávamos” (Lc 2,48). Ao que ele respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que é necessário que eu esteja nas coisas de meu pai?” (Lc 2,49).

Nesse episódio, a incompreensível resposta do menino à mãe, demonstra a íntima união entre Jesus e o Pai, muito mais forte e decisiva do que o vínculo familiar natural e cultural que Maria parece reclamar. Transparece já o conteúdo do Evangelho que Jesus irá anunciar dando origem a uma nova família na terra, não constituída por laços de consanguinidade ou de etnia, mas pela escuta e observância da Palavra de Deus (cf. Lc 11,27-28).

A graça e a sabedoria manifestadas desde o início da vida de Jesus são consequências diretas de sua comunhão com o Pai. É essa comunhão, que o torna “resplendor da glória do Pai e perfeita expressão de seu ser” (Hb 1,3a), que Ele propõe como Evangelho, a Boa-Notícia, por excelência.

O estupor dos pais de Jesus diante de sua resposta incompreensível, bem como a atitude de Maria de guardá-la meditando-a em seu coração mesmo sem entendê-la (cf. Lc 2,51), significa que o sentido profundo da pessoa e da missão de Jesus nunca pode ser alcançado imediatamente e de uma vez por todas pelo fiel. Ele era um mistério para a própria mãe que, só após longo caminhar na fé, meditando a palavra d’Ele, pôde lentamente compreender o significado de seu nascimento, de sua missão e de sua pessoa.

 Portanto, o cristão que quer seguir Jesus deve estar disposto a tomar a mesma a atitude de Maria lidando com a própria incompreensão, pois o Evangelho é uma revelação divina que, por sua natureza, supera sempre as expectativas e capacidades humanas, e que só se torna, efetivamente, uma Boa-Notícia para nossa vida quando nos deixamos surpreender por sua novidade e não anulamos sua força de fermentação.

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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