Por Frei Aloísio Oliveira Em Lendo o Evangelho

Meus irmãos fazem a vontade de Deus

Frei Aloísio medita o Evangelho (Mc 3,20-35) deste domingo (06) lembrando que Jesus nos pede para fazermos a vontade de Deus

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“Meu irmão, minha irmã e minha mãe é quem faz a vontade de Deus” (Mc 3,35). Esse trecho descreve o sucesso da pregação de Jesus, indicado pela imensa multidão que se reúne em volta dele (cf. Mc 3,20.34), mas, ao mesmo tempo, retrata a incompreensão e resistências que sofreu. Pois, por causa desse inegável sucesso, as autoridades religiosas de Jerusalém partem para o contra-ataque.

Mandam a Nazaré seus melhores representantes, os escribas, homens letrados e bem entendidos das questões religiosas. A crítica desses teólogos a Jesus é ferina.

Não podendo contradizer suas obras: as curas e os exorcismos, eles difamam Jesus, afirmando que está possuído e que é pela força do chefe dos demônios que Ele expulsa espíritos malignos (cf. Mc 3,22). Tudo leva a crer que a ofensiva deles sortiu efeito, pois os próprios parentes de Jesus vão à Sua procura para detê-Lo à força, argumentando: “Está fora de si” (cf. Mc 3,21).

Com a metáfora do reino e da casa divididos, Jesus rebate a crítica de seus adversários, demonstrando que o argumento deles é ridiculamente ilógico. Como pode Satanás expulsar Satanás? Como não pode ficar de pé um reino ou uma casa cujos membros lutam entre si, de igual modo, se Satanás está contra Satanás, sua força se esgotou e chegou seu fim (cf. Mc 3,26).

É claro que o domínio de Satanás findou! Mas, não por causa de sua divisão interna, e sim, porque o Espírito de Deus está atuando em Jesus Cristo, no seu ministério. Agindo com a força do Espírito Santo, Jesus entrou na casa de Satanás, “amarrou-o e usurpou-lhe os bens” (cf. Mc 3,27), isto é, com sua vinda ao mundo, Jesus venceu o mal e libertou as pessoas de seu domínio.

Portanto, aqueles que rejeitam Jesus e O caluniam atribuindo Suas ações ao poder do demônio, estão blasfemando contra o Espírito Santo que n’Ele está agindo e, por isso, estão cometendo um pecado imperdoável porque estão rejeitando a única salvação eficaz contra o mal.

Em que consista propriamente o imperdoável pecado contra o Espírito Santo foi muito discutido ao longo da história, trazendo, inclusive, certa dificuldade teológica ao colocar em questão os atributos divinos. Pois, havendo um pecado que Deus não pudesse perdoar significaria que Ele não é onipotente.

Contudo, isso representa questões teológicas posteriores que, certamente, o autor do evangelho e seus primeiros ouvintes não se punham. De maneira mais simples, podemos ver indicados, aqui, os limites extremos de fechamento a que o ser humano pode chegar, sacrificando ao culto de si mesmo o que é mais sagrado e sua única chance de verdadeira grandeza.

Não há pecado que Deus não possa perdoar! Da parte d’Ele a oferta está sempre de pé. Cabe ao ser humano perguntar-se se quer entender-se a si próprio a partir de si mesmo ou quer colocar-se sob a soberania de Deus Criador.

Contudo, é necessário saber: quem padece de enfermidade grave expõe-se a um risco mortal quando rejeita o diagnóstico e o tratamento certeiros oferecidos por seu médico.

A mãe e os irmãos de Jesus, dos quais não se dizem os nomes, nesta passagem (Mc 3,31-35), podem ter dupla significação. Podem indicar tanto o povo judeu com suas instituições, como os judeus convertidos ao cristianismo que, fundamentados nos privilégios do antigo Israel estabelecidos pelos vínculos de sangue e de herança, são refratários ao Novo Israel formado por Jesus Cristo.

Com efeito, o Novo Israel não depende mais da consanguinidade e das instituições judaicas, mas da adesão à pessoa de Jesus Cristo e, por isso, está aberto a todas as pessoas, de todas as etnias e culturas, que decidam acolhê-Lo e segui-Lo, formando, assim, a comunidade daqueles que fazem a vontade de Deus. Fazer a vontade de Deus não é sujeição do mais fraco ao poder arbitrário do mais forte, mas é a aceitação livre e voluntária da Paternidade de Deus que quer comunicar a todos Sua própria Vida, Seu Espírito, alcançáveis precisamente pela adesão ao seguimento de Jesus Cristo.




Escrito por:
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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