Por Frei Aloísio Oliveira Em Lendo o Evangelho

A Palavra que é alimento

“É meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do céu” (Jo 6,32)

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Após a multiplicação dos pães, a multidão saciada vai atrás de Jesus movida pelo interesse do pão terrestre. Não percebeu no dom do pão em abundância o sinal de um alimento que permanece para a vida eterna e que só Jesus dá.

Conforme a confirmação do Livro do Deuteronômio, o alimento, na tradição bíblica, simboliza a Palavra de Deus: “Ele fez com que sentisses fome e te alimentou com o maná que nem tu nem teus pais conheciam, para te mostrar que o homem não vive apenas de pão, mas de tudo aquilo que procede da boca de Deus” (Dt 8,3).

Portanto, o maná simboliza a Lei que vem do céu. O significado é tão claro para os interlocutores de Jesus que eles logo aceitam não trabalhar unicamente para conseguir o pão terreno e o debate se eleva até à preocupação máxima que é a observância perfeita da Lei: “Que faremos para trabalhar nas obras de Deus? (Jo 6,28).

Às inúmeras obras que os galileus estão dispostos a cumprir, Jesus opõe a única “obra de Deus”, que é preciso realizar para agradar-Lhe: crer n’Aquele que Ele enviou (cf. Jo 6,29). Essa obra divina, por excelência, é realizada tanto por Deus mesmo quanto pela pessoa que crê (cf. 3,16s.34). A experiência da fé ocorre por um encontro, por uma colaboração entre Deus que atrai e o ser humano que acolhe.




Os ouvintes de Jesus, porém, acham pretensiosa demais Sua afirmação e mostram-se resistentes, exigindo d’Ele um sinal que O credenciasse como profeta comparável a Moisés: “Que sinal realizas, para que vejamos e creiamos em ti? Que obra fazes? Nosso pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes pão do céu a comer” (Jo 6,30-31).

Evitando a polêmica comparação com Moisés, Jesus menciona a ação do próprio Deus. O verdadeiro doador do “pão do céu” não é Moisés, mas Deus, designado pela expressão “meu Pai”. Esta retificação a propósito do doador não é feita apenas em função do passado: ela refere-se ao presente dos ouvintes. “Não é aos pais, mas a vós” que o dom de Deus se destina. E este dom é atual: o pão, diz Jesus, que meu Pai vos dá é o verdadeiro, aquele que realiza a figura do maná e as promessas da Lei. Entre o passado e o futuro está o “presente” de Deus. Passa-se da lembrança e da espera para a realidade substancial da qual os interlocutores de Jesus são beneficiários. É necessário que eles percebam que crer em Jesus é cumprir toda a Lei, é saborear o “verdadeiro maná”, que realmente satisfaz.

Escrito por
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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