Lendo o Evangelho

Pentecostes inicia tempo da Igreja e da reconciliação

“A quem perdoardes serão perdoados” (cf. Jo 20,23a)

Frei Aloísio, Ministro Provincial

Escrito por Frei Aloísio Oliveira

31 MAI 2020 - 00H00 (Atualizada em 17 AGO 2021 - 09H07)

A aparição de Jesus a Seus discípulos em uma casa a portas trancadas (cf. Jo 20,19) visa demonstrar que doravante Ele pode se fazer sempre presente aos Seus, sem limites de espaço e tempo. Onde quer que a comunidade cristã se reúna, Ele ali está para comunicar o dom da paz.

Com efeito, o “paz a vós”, aqui, não pode ser confundido com o “shalom”, saudação convencional dos judeus, nem traduzido como mero desejo subjetivo: “a paz esteja convosco”. Trata-se do dom efetivo da paz. Ora, segundo a Bíblia, o bem supremo da paz consiste substancialmente na presença de Deus no meio de Seu povo. Assim, a presença do Ressuscitado no meio dos discípulos é Deus mesmo fazendo-se presente plenamente, sem restrições.

Os discípulos, porém, estão trancados por medo dos judeus (cf. Jo 20,19). Ora, a paz que o Ressuscitado comunica e causa alegria aos discípulos (cf. Jo 20,20) é o contrário do medo. O medo é sempre decorrente de situações adversas que, nesse caso, é a perseguição dos judeus. Muitas vezes, porém, o medo encontra cumplicidade no coração do homem, prisioneiro da estima do mundo e excessivamente preocupado consigo mesmo. O medo torna o discípulo cego e hesitante, por isso, deve superá-lo pela fé em Jesus Cristo, que se tornou Senhor e doador da paz ao passar pelo suplício da cruz (cf. Jo 20,20). Dessa forma, a paz comunicada pelo Ressuscitado torna-se acessível na medida em que se supera o apego a si e, portanto, se deixa de ser vassalo do mundo, pois a paz e alegria nascem da liberdade, da verdade, do dom de si.

A presença do Ressuscitado junto aos Seus não é um privilégio a ser usufruído em benefício próprio, mas é uma incumbência: eles devem dar continuidade à missão de Jesus (cf. Jo 20,21). Por isso, soprando sobre eles, Jesus os investe do dom do Espírito Santo e os envia a realizar a mesma missão que recebeu do Pai: a remissão dos pecados. A expressão “perdoar e reter” pecados é uma maneira hebraica de exprimir uma totalidade por meio de um par de opostos. Tal expressão significa, portanto, que os discípulos receberam de Jesus Ressuscitado o pleno poder da reconciliação. Assim, a missão deles implica tudo o que visava o ministério confiado a Jesus: reconciliar os seres humanos com o Pai, manifestando-lhes Seu amor (cf. 17,26c). A expressão na voz passiva: “aqueles a quem perdoardes serão perdoados” é uma maneira respeitosa de dizer que Deus mesmo é o autor do perdão. Isso significa que quando os discípulos perdoam é o próprio Deus que está perdoando.

Com o dom do Espírito e o envio dos discípulos, está inaugurado, portanto, o tempo da Igreja que, segundo João, coincide com o dia da Páscoa evidenciando o laço imediato com Jesus ressuscitado e glorificado. Assim, o tempo do Espírito não é autônomo e diferente do tempo de Cristo, mas continuação dele. Mais ainda: é o próprio Jesus que inaugura o tempo do Espírito. O mesmo Espírito que atuou em Jesus para realizar Sua missão, agora atua na comunidade dos Seus para continuá-la.

Escrito por:
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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