Por Frei Aloísio Oliveira Em Lendo o Evangelho

Ser servo de todos

No Lendo o Evangelho deste domingo (17), Frei Aloísio medita sobre o ensinamento de Jesus de sermos servos de todos para estarmos mais próximos de Deus

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Jesus mal havia terminado o terceiro anúncio de Sua paixão e morte (cf. Mc 10,32-34), quando Tiago e João, demonstrando grande cegueira e incompreensão, pedem-Lhe lugares de honra em Seu reino (cf. Mc 10,37). Os dois irmãos querem estar acima dos demais. A indignação dos outros dez discípulos deixa transparecer que eles também cobiçavam os mesmos privilégios (cf. Mc 10,41).

Jesus responde a Tiago e João que eles não sabem o que estão pedindo e lhes pergunta se podem beber o cálice que Ele vai beber e serem batizados com o batismo com que será batizado. É uma imagem que exprime Seu destino de sofrimento e Sua morte dolorosa. Com efeito, cálice, na tradição bíblica, significa o juízo de Deus (cf. Is 51,17; Jr 25,15) e também os padecimentos e a morte de um mártir. Portanto, com a imagem do cálice, Jesus não só alude a Sua paixão e morte, como também interpreta ambos os acontecimentos como juízo divino que Ele aceita em favor de toda a humanidade.

Também a imagem do batismo está calcada em expressões da Bíblia que comparam os sofrimentos e as provações como águas impetuosas que ameaçam afogar a pessoa (cf. 2Sm 22,5; Sl 42[41],8; Sl 69[68],2; Is 43,2). A expressão “ser batizado”, contudo, além de evocar os sofrimentos e a morte dolorosa de Jesus, recorda também o gesto com que Ele iniciou Sua atividade pública: o batismo de conversão para a remissão dos pecados, nas águas do Jordão. Aquele batismo era símbolo do que haveria de acontecer, no fim de Sua vida, quando Ele se manifesta verdadeiramente solidário com os pecadores em uma situação de morte, que é fruto imediato do pecado que se tornou estrutura de poder. Por Sua morte, Jesus é “mergulhado” (batizado) na condição dos pecadores para comunicar-lhes Sua vida plena.

O diálogo de Jesus com os dois irmãos ambiciosos esclarece, substancialmente, que não há privilegiados em Seu reino. Os lugares de honra perto d’Ele não são definidos por preferências pessoais, mas são preparados, “por Deus” (cf. Mc 10,40), para aqueles que aceitam “beber do cálice de Jesus” e “participar de Seu batismo”, ou seja, para os que estão dispostos a suportar tribulações e morte em Seu seguimento.

Em outras palavras: serão mais próximos a Jesus aqueles que, como Ele, se fizerem últimos e servidores de todos (cf. Mc 9,35;10,31.44-45). O critério de preferência, portanto, é muito diferente do imaginado pelos filhos de Zebedeu. A proximidade com Jesus é determinada pelo nível de profundidade no Seu seguimento e não por ocupar lugares e funções de honra, mesmo que seja dentro da comunidade cristã.

No evangelho de Marcos, em geral, os doze discípulos representam a comunidade cristã a quem o evangelista se dirige. Portanto, esse texto é uma catequese sobre o exercício do poder e da autoridade, na Igreja. Tanto Tiago e João, pretendendo assegurarem-se os primeiros lugares no reino de Jesus, como os outros dez discípulos que ficam indignados com eles por aspirarem à mesma coisa, representam a tentação de se reproduzir, na Igreja, o mesmo modo de se exercer o poder na sociedade pagã.

Na comunidade cristã, especialmente os que exercem funções de liderança, correm o risco de pretenderem desempenhar seu ministério colocando-se como “grandes” e “acima” dos outros para obterem vantagens pessoais com isso, como se Jesus fosse um dominador semelhante aos chefes das nações (cf. Mc 10,42) e não o Servidor, por excelência, que entregou a Si mesmo em benefício de todos (cf. Mc 10,45).

Portanto, no fundo, as palavras dirigidas a Tiago e João constituem uma exortação, dirigida a todos os seguidores: esforçai-vos para seguir-me nas provações, sendo servos de todos. Assim, tudo estará preparado para que partilheis da minha glória.

Escrito por:
Frei Aloísio, Ministro Provincial
Frei Aloísio Oliveira

É Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis dos Frades Menores Conventuais e especialista em Sagrada Escritura.

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