Eu nasci no norte da Espanha, na região de Astúrias, que se eleva do Mar Cantábrico até os Picos de Europa, com cumes de mais de 2.000 metros de altura. Llanes, a cidade em que nasci, é chamada de “a vila branca da Costa Verde”. De minha infância, só guardo boas lembranças. Depois de uma cruel guerra civil, o povo retornava à vida austera e simples dos camponeses. A família de minha mãe tinha três vacas leiteiras e um jumento, para o trabalho. Uma vez ao ano, o cigano Pedro passava pela aldeia, comprando e vendendo animais de carga. As festas religiosas alegravam a vida dos habitantes da região. As águas do rio eram limpas, doces, serenas.
Estas belas lembranças chocam-se com a notícia que acabo de receber. Na cidade de Piedras Blancas (em Astúrias), um ancião matou sua mulher e se suicidou. O ancião atirou-se do terraço do prédio em que o casal residia. Havia sete anos que a mulher padecia de Alzheimer. O marido não saía nunca de casa.
Outras notícias agigantam o quadro da “cultura da morte”. As nossas cidades são palco de homicídios e assassinatos, cometidos até por menores de idade e por motivos banais. O mundo árabe vive em permanente estado de agitação e violência. Quando escrevo este texto, os Estados Unidos e seus aliados estão à beira de uma intervenção militar na Síria, cujo governo teria usado armas químicas. Curiosa maneira de defender a vida, jogando mísseis que causarão mais mortes. A organização humanitária Anistia Internacional denuncia o “desprezo pela vida humana”, por parte dos militares que acabam de assumir o poder no Egito. Em uma semana, a repressão das manifestações contrárias ao golpe militar causou centenas de mortes.
Neste contexto, a doutrina judaico-cristã nos convida a cultivarmos a “cultura da vida”. O Quinto Mandamento da Lei de Deus tem um enunciado negativo: “Não matarás” (Ex 20,13), mas pode ser formulado positivamente: Amarás a vida, desde o primeiro instante de sua concepção até o seu término natural; cuidarás da própria vida e da vida de teus semelhantes.
O Quinto Mandamento defende o direito e o dever de preservar a vida. A vida é sagrada, porque pertence a Deus. Nós não somos proprietários, mas administradores da vida que Deus nos dá cada dia.
Lembro-me de uma religiosa idosa, portadora de leucemia. Ao terminar a experiência dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, sintetizou assim o fruto que obtivera: “Compreendi que a minha vida é preciosa”. Sim, a vida humana é preciosa. Por isso, precisamos cuidar dela com muito carinho.
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