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Annalena Tonelli: missionária entre os mais pobres

Leia na íntegra o depoimento da missionária que dedicou mais de 30 anos de sua vida à educação e ao tratamento da tuberculose no Quênia, em Uganda e na Somália, e que foi assassinada na África pelos seus atos de bem



Annalena dedicou mais de 30 anos à educação e ao tratamento da tuberculose no Quênia, em Uganda e na Somália. Não falava muito sobre seu trabalho, recusava premiações e o depoimento que segue foi dado em um encontro internacional sobre voluntariado, promovido pelo Vaticano em 2001. Dois anos depois, a missionária leiga foi assassinada na África.

Leia abaixo o depoimento completo da missionária:

"Eu me chamo Annalena Tonelli. Nasci na Itália, em Forlì, no dia 2 de abril de 1943. Trabalho na área da saúde há 30 anos, mas não sou médica. Eu me formei em Direito, na Itália. Vivo a serviço, sem um nome, sem a segurança de uma ordem religiosa, sem pertencer a nenhuma organização, sem um salário, sem pagar as contribuições devidas para a aposentadoria na minha velhice. Tenho amigos que ajudam a mim e à minha gente há mais de 30 anos. Escolhi ser para os outros: os pobres, os sofredores, os abandonados, os que não são amados; eu era uma menina, e assim continuei e espero continuar sendo até o fim da minha vida.

Parti para a África decidida a “gritar o Evangelho com a vida”, seguindo os passos de Charles de Foucauld, o qual tinha inflamado a minha existência.

Fui ao Quênia como professora, pois era o único trabalho que, no começo de uma experiência assim tão nova e forte, eu podia desempenhar de maneira decente, sem prejudicar a ninguém. Eram tempos de uma terrível pobreza e vi tanta gente morrer de fome. No decurso da minha existência, fui testemunha de outra carestia: dez meses de fome, em Merca, no sul da Somália. Posso afirmar que se trata de uma experiência tão traumatizante, capaz de colocar em perigo a fé.

Por muitos anos estive em meio à guerra. Experimentei na carne dos meus caros e, portanto, na minha carne, a maldade do ser humano, a sua perversidade, a sua crueldade, a sua iniquidade. E saí de tudo isso com uma convicção inabalável de que aquilo que conta é apenas o amar.

Desenvolvi um método de tratamento da tuberculose que curou muitos nômades do deserto, e também trabalhei em um centro de reabilitação para pessoas com necessidades especiais, junto às companheiras que, ao longo dos anos, se uniram a mim, todas voluntárias sem salário, todas pobres e por Jesus Cristo. Éramos uma família. Acolhíamos, além dos portadores de poliomielite, casos especialmente difíceis de serem tratados, reabilitados, pessoas particularmente feridas: cegos, surdos, pessoas com deficiência física ou mental.

Gostaria de dizer, ainda, que os pequenos, os sem-voz, aqueles que nada contam aos olhos do mundo, mas contam tanto aos olhos de Deus, que são os Seus prediletos, eles precisam de nós. E nós precisamos estar com eles e ser para eles. Não faz mal se a nossa ação é apenas uma gota de água no oceano. Jesus Cristo nunca falou de resultados. Ele pediu-nos apenas para amarmos, para lavarmos os pés uns dos outros, para perdoarmo-nos sempre.

Annalena Tonelli"

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