A fidelidade é característica essencial do verdadeiro amor. O amor conjugal exclui, obviamente, o adultério e tudo o que a ele possa conduzir. Mas a fidelidade não se reduz apenas a evitar o adultério. A fidelidade implica a plenitude de um amor alicerçado na fé, na confiança, na doação total. A fidelidade expressa a perseverança do amor.
O amor é a alma da fidelidade; a fidelidade é a prova, a expressão inequívoca do amor. Sem fidelidade, não há verdadeiro amor e, sem amor, a fidelidade está sempre exposta, como árvore sem raízes profundas.
No filme “Os guarda-chuvas do amor”, a guerra obriga um casal de namorados a se separar. Na despedida, a namorada – a bela Catherine Deneuve – canta: Je vous attendrai toujours (“Eu te esperarei sempre”). Entretanto, quando o moço regressa da guerra, encontra a mocinha casada com outro.
Uma criança de 7 anos, filha de pais separados, perguntou à mãe: “Mãe, por que papai e você não foram ‘felizes para sempre’”?
Sim, o amor humano é frágil. Para ser verdadeiro, o amor deve participar da radical “saída-de-si”, da qual o Filho de Deus nos deu exemplo ao se encarnar. “O verdadeiro amor tem sempre por base a renúncia ao bem individual” (Tolstói).
Todo amor aspira a ser incondicional. Mas o amor humano não pode ser incondicional, a menos que seja sustentado pela fé religiosa, porque só Deus é absoluto. Consciente de minha fraqueza, meu juramento é acompanhado de uma oração: “o céu não permita que eu venha cair na tentação” (Gabriel Marcel).
MaggieTulliver, a protagonista do romance The Mill on the Floss, de George Eliot, estava a ponto de mudar a orientação de sua vida, em meio a uma grave tentação. Mas, nesse instante, lembrou-se de momentos de plenitude que, no passado, plasmaram a sua personalidade moral. Tudo isso acabaria, se ela cedesse à tentação. Vencendo esta, Maggie salvaria a unidade do seu próprio ser. Manter-se fiel significaria ser ela mesma. Negar seus compromissos fundamentais seria negar a si mesma. A fidelidade ao compromisso assumido no passado poderia parecer contrária à liberdade. Na verdade, porém, ser fiel é uma forma de ser livre, de escapar de toda escravidão, de toda alienação, para viver o nosso verdadeiro ser.
O Nono Mandamento da Lei de Deus prescreve: “Não desejar a mulher do próximo”. Positivamente, poderíamos formulá-lo assim: “cultivar sempre a fidelidade à própria esposa” e ao nosso ser mais profundo.
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