Devoção a Maria

Como vimos, a devoção a Maria é um elemento qualificador do cristianismo latino-americano, uma expressão vital e histórica que pertence à sua própria identidade. Como toda realidade da vida cristã, a veneração latino-americana por Maria sofreu uma evolução imposta pelas mudanças que ocorreram no curso da história do continente, modificando também o modo como a devoção a Maria é vivida.

Como sinal da devoção e do espírito evangelizador dos conquistadores, as fundações ou demarcações territoriais de muitos lugares na América foram sempre feitas em nome de Jesus e da Virgem Maria. Grande parte das cidades foram batizadas com o nome de algum santo ou das diversas invocações de Maria.

Em vários documentos do episcopado latino-americano podemos encontrar uma ampla lista dos valores religiosos que, como expressão de fé, manifestam a base católica que constituiu a cultura latino-americana.

Entre os valores religiosos que impregnaram a cultura latino-americana, encontramos a devoção a Maria que, em muitos países, uniu os diversos estratos sociais, contribuindo em maior ou menor grau para criar uma consciência nacional.

Um dos pontos fortes e marcantes da presença de Maria, o podemos perceber na sua maternidade. A presença de Maria como mãe, na cultura e na religiosidade dos povos latino-americanos, se manifesta nas celebrações patronais, que são ocasiões de festa de peregrinações e de promessas para se obter graças.

Geralmente são celebrações da comunidade, que fazem esquecer as diferenças e as divisões da sociedade. É possível constatar nestas celebrações uma mistura de elementos religiosos e profanos, em uma síntese humana que quer reproduzir o clima de uma alegre celebração familiar da mãe.

Em uma das suas visitas ao nosso continente, João Paulo II, no impressionante “encontro das gerações” que se verificou no estádio Azteca, na Cidade do México, pôde exclamar: “América, terra de Cristo e de Maria!”, indicando assim a identidade mais profunda destas nações.

De fato, a América é a terra de Cristo e de Maria porque soube acolher a boa-nova do evangelho. É a terra de Cristo porque seus filhos e seus povos renasceram para uma nova vida nas águas do batismo. E é a terra de Maria porque desde a evangelização dos fundamentos a Virgem soube conduzir seus habitantes ao encontro com seu Filho, o Senhor Jesus.

Ela, que com sua intercessão materna foi a estrela da primeira evangelização, deve também ser a luz fulgurante capaz de guiar os trabalhos da nova evangelização. Diante dos desafios do mundo de hoje, e principalmente neste tempo de grandes mudanças, a evangelização em nosso continente latino-americano necessita urgentemente de um novo impulso e uma nova e profunda renovação, voltando o nosso olhar retrospectivamente para a história dos nossos povos, a fim de poder enxergar e reconhecer os dons de Deus na vida dos homens e mulheres deste tempo.

E que este “olhar para trás” não nos leve a um estéril romantismo e a um esquecimento das muitas falhas passadas e atuais, mas que possamos resgatar da história a beleza da presença de Maria como a estrela que nos guia no caminho de seu Filho Jesus.