Por Espiritualidade Em Nossa Senhora

Intercessora e companheira de caminho

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A piedade e a religiosidade popular presentes na vida do nosso povo são uma característica marcante do catolicismo latino-americano. São vividas de múltiplas formas, mas uma que sempre me chamou muito à atenção são os cantos populares, especialmente os dedicados a Nossa Senhora.

Um dos meus prediletos é aquele que diz: “Pelas estradas da vida nunca sozinho estás. Contigo pelo caminho Santa Maria vai... Oh, vem conosco vem caminhar, Santa Maria vem”, e é disto que nos fala a IV Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho na qual se reconhece Maria como aquela que caminhou junto ao povo, intercedendo e mostrando o caminho.

O Documento final do encontro de Santo Domingo (na República Dominicana, em 1992) diz: “ela nos precedeu na peregrinação da fé e no caminho da glória, e acompanha os nossos povos que a invocam com amor, até que nos encontremos definitivamente com seu Filho. Com alegria e gratidão acolhemos o dom imenso de sua maternidade, ternura e proteção, e aspiramos a amá-la do mesmo modo como Jesus a amou. Por isso a invocamos como estrela da Primeira e da Nova Evangelização” (DSD 15).

Um ponto que esse documento também ressalta é o da purificação da devoção popular mariana, no sentido de que os valores que desta se desprendem devem ser sempre revistos e atualizados: “Temos de promover uma liturgia que, em total fidelidade ao espírito que o Concílio Vaticano II quis recuperar em toda sua pureza, busque, dentro das normas dadas pela Igreja, a adoção das formas, sinais e ações próprios das culturas da América Latina e Caribe. Nesta tarefa dever-se-á dar uma especial atenção à valorização da piedade popular, que encontra sua expressão especialmente na devoção à Santíssima Virgem, nas peregrinações aos santuários e nas festas religiosas, iluminadas pela Palavra de Deus” (DSD 53).

Fazendo minhas as palavras do irmão marista A. Murad, digo que: “Maria é figura inspiradora de todo cristão e cristã, por sua atitude fundamental de abertura radical à interpelação divina e de seguimento a Jesus. Especialmente para as mulheres, Maria é um sinal concreto e lapidar de protagonista da história.

Alguém que ao mesmo tempo se oferece totalmente a Deus e mantém sua personalidade e criatividade. Maria é também figura inspiradora da Igreja por sua união íntima ao Espírito, com protótipo de inculturação da Boa-Nova, pela solicitude materna em favor dos necessitados, e pela experiência analógica da maternidade.

Ela é imagem da Igreja escatológica, já realizando antecipadamente em si o que Deus sonhou para a comunidade eclesial. Proposta como estímulo para a vida de fé, mas também uma pessoa viva e ativa no interior da comunidade eclesial, intercedendo por ela. Maria ajuda a criar uma face mestiça e latino-americana do cristianismo.

Como aconteceu nos inícios da história deste continente, Maria é também hoje pedagoga da fé, que nos ajuda a entrar e seguir o caminho de Jesus. Ela é a estrela que sinaliza e aponta a Cristo. Para as mulheres, especialmente, Maria se faz companheira de luta, que lhes dá força, coragem e resistência. Uma equilibrada e madura devoção mariana, longe de ser algo que separa os cristãos e cria rancores, deve recriar a mesma atitude básica de Maria: fazer-se serva do Senhor a serviço do Reino (Lc 1,38), e conclamar os outros a realizar o mesmo (Jo 2,5)”.

Portanto, eis o belo rosto da mariologia da Conferência de Santo Domingo, que nos ajuda neste sentido a dar mais um passo na procura de poder constituir o rosto da teologia mariana do nosso continente a partir das conferências gerais do Episcopado Latino-americano e Caribenho.

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