Igreja

Papa Leão e o cuidado com os pobres

O novo documento do Papa foi apresentado no Vaticano

Escrito por Paulo Teixeira

09 OUT 2025 - 15H35

A primeira Exortação Apostólica de Papa Leão XIV intitulada Dilexi te (na tradução em português "Eu te amei") foi apresentada em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 9 de outubro, na Sala de Imprensa da Santa Sé. Trata-se do primeiro documento magisterial do Pontífice que ele assinou no último sábado, 4 de outubro, dia de São Francisco, na Biblioteca Privada do Palácio Apostólico, na presença do arcebispo Edgar Peña Parra, substituto para os Assuntos Gerais da Secretaria de Estado.

Durante a apresentação da primeira Exortação Apostólica do papa leão XIV, o Cardeal Michael Czerny destacou os pontos cruciais da Dilexi Te, sublinhando que a questão da pobreza vai além do social, alcançando o âmago da fé cristã. A Igreja, ao curar feridas – sejam elas físicas, sociais ou espirituais – atesta que o Reino de Deus abraça os vulneráveis.

O diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, explicou que “o títuloremete para uma passagem do Apocalipse e se coloca em continuidade com a encíclica "Dilexit Nos" do Papa Francisco, de outubro de há dois anos. E já no terceiro parágrafo, o Papa Leão explica que se trata de uma reflexão sobre o amor da Igreja pelos pobres e com os pobres, alargando e aprofundando assim o ‘amor para com os pobres’ que serve de subtítulo ao documento”.

Um tema teológico

Segundo o Cardeal Czerny, o contato com os que sofrem é um encontro concreto com a salvação. "A pobreza, um enorme problema social, é também um tema teológico. Através dos pobres, Deus fala à Igreja, a fé se torna real na misericórdia e no serviço que derrubam barreiras."

Essa compreensão levou o Magistério a identificar a raiz da miséria nas falhas do sistema: "O recente ensinamento da Igreja compreende que a pobreza resulta de estruturas de pecado. O egoísmo e a indiferença solidificam-se em sistemas econômicos e culturais."

O Cardeal Czerny não hesita em criticar o sistema econômico vigente: "A economia que mata mede o valor humano em termos de produtividade, consumo e lucro. Esta mentalidade dominante torna aceitável o descarte dos fracos e improdutivos, e por isso merece o rótulo de pecado social."

Além da beneficência

A resposta da Igreja à pobreza, portanto, não pode se limitar à caridade pontual. Deve ser um ato de profunda transformação: "Para além de doações e outras assistências, a resposta da Igreja denuncia a falsa imparcialidade do mercado, propõe modelos de desenvolvimento, promove a justiça e visa a conversão das estruturas.", segundo Czerny.

O Cardeal Czerny lembra o apelo de São João Paulo II para que os próprios desfavorecidos assumam o protagonismo exortando “os pobres a se tornarem protagonistas da transformação eclesial e social. Por exemplo, os movimentos populares, com a sua energia moral, demonstram que a justiça surge da inclusão dos excluídos." O pobre, assim, é visto não só como objeto de ajuda, mas como "portador de esperança e construtor de um destino comum".

Para Matteo Bruni, “o quadro em que se insere este documento e que o Papa explica bem. Não estamos no horizonte da beneficência, escreve o Papa, mas sim da revelação. O contato com quem não tem poder e grandeza é uma forma fundamental de encontro com o Senhor da história. Nos pobres, Ele ainda tem algo a nos dizer”.

O Cardeal Czerny concluiu sua análise apontando a profunda ligação entre o cuidado com o próximo e a busca pela paz global, citando o Papa Leão XIV: "Em Dilexi Te, o Papa Leão se une ao Papa Francisco ao declarar: não haverá paz enquanto os pobres e o planeta forem negligenciados e abusados. A paz cristã é uma justiça reconciliadora e reconciliada."

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