Por Túlia Savela Em Bem-Estar Atualizada em 25 MAI 2021 - 11H38

Harmonia familiar em meio à pandemia

Psicóloga Sheila Roque dá dicas às mães e famílias que vivem uma nova forma de se organizar e realizar tarefas, em função da pandemia causada pelo novo coronavírus




Com a próximidade do Dia das Mães, neste domingo, 10 de maio, entrevistei a psicóloga Sheila Roque, de Itaporanga - SP, dedicada à psico-educação, além dos atendimentos de psicoterapia. Num bate-papo bem direto, ela traz informações preciosas para manter o bem-estar em família e garantir saúde e equilíbrio emocional.

O Mílite: Como é ser mãe nesse momento de pandemia?

Sheila: É um momento repleto de desafios: conciliar a rotina de trabalho, a educação dos filhos, a convivência na família, tudo sob o mesmo teto, num clima de tensão diante da Covid-19, com grande repercussão e desdobramentos. Então, é importante, manter a saúde mental. E criança, em cada fase etária, exige um comportamento da mãe.

Quando bebê recém-nascido, ainda não entende tudo que está acontecendo. Necessita de um controle maior por parte do adulto, por isso tem-se que estar preparado para essa demanda emocional muito grande, que vem com essa exigência muito grande.

Para as crianças maiores, costumo falar para as mães que não subestimem sua criança. Você tem que explicar, na linguagem que ela possa compreender, tudo que está acontecendo ao redor dela, porque ela está vendo um movimento grande de tensão, o uso da máscara, a necessidade de lavar a mão o tempo todo, o “tira a mão da boca”, o entra-e-sai do adulto com todos esses cuidados e preocupações. Então, não se pode esconder informação. A comunicação é muito importante e ela tem que ser feita de acordo com a idade, de acordo com o desenvolvimento intelectual da criança.

O Mílite: O que você recomendaria para as mães?

Sheila: A mãe é o porto seguro da criança. Um momento de isolamento gera muita ansiedade e medo e a mãe acaba sendo a fonte que vai ajudar a criança a se manter bem. Em primeiro lugar, prepare-se emocionalmente porque a criança tem que sentir confiança nas suas palavras, ver a segurança no seu comportamento e, para isso, você tem que estar bem, para passar segurança à criança. Estruture uma boa conversa, dependendo da idade. Sempre leve a conversa com otimismo pois, mesmo que elas não entendam o todo, é importante explicar o que está acontecendo. Filtre as informações, pegue o básico e não fique toda hora lendo notícias da pandemia. Foque no que é essencial, na prevenção, lembre que isso tudo vai passar e tire as dúvidas da criança.

Repense a rotina. Todo mundo foi convidado a repensar o modo de vida. Procure deixar a rotina da criança em dia. É fácil? Não é. Então tente manter como era antes da pandemia. Rotina é igual a segurança. Ensine a criança a fazer as atividades no mesmo horário de antes e também ensine que há momentos em que ela não terá nada para fazer. Porque temos de educar os filhos de modo que eles saibam que não terão atividade o tempo todo, ensinar que a irritação e a frustração fazem parte da vida, e são importantes para o desenvolvimento humano. Ensine seu filho a brincar sozinho, deixe ele fazer a rotina dele enquanto você vai trabalhar. Incentive brincadeiras, estimule a criatividade. Na hora em que você precisar responder um e-mail ou fazer uma planilha, põe a criança para brincar. Dê um caderno para ela e peça que desenhe um monstrinho. Peça para ela contar uma história com aquele monstrinho, porque, nesse momento, você já trabalha o medo, a ansiedade junto com a nossa realidade.

Vale lembrar que cada família tem sua particularidade. Então, não tem uma receita pronta. Aqui dei algumas dicas, mas, cada família tem o seu ritual.


Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Sheila Roque, psicóloga

O Mílite: O que você diria às gestantes?

Para as gestantes, o momento já é de muita mudança no corpo, surgem as limitações, o medo e a insegurança e a questão da pandemia potencializa isso. Ou seja, já é um momento de vulnerabilidade. Costumo falar para essas mães: informação em excesso sobre a quarentena faz mal. Mantenha o contato com o seu obstetra. Continue indo no postinho onde você está fazendo o seu pré-natal. Não abandone o cuidado. Evite o estresse, siga as recomendações de alimentação, faça exercícios físicos. Converse, fale sobre o que você sente e pensa. Põe tudo para fora. Evite o isolamento total. Tenha muito amor, paciência com você mesma, com o seu momento. Busque apoio da família ou de alguém que você acha importante nesse momento. Não sofra sozinha, porque um estresse elevado pode causar até a antecipação desse parto. Então, cuidado com depressão pós-parto, cuidado com medo exagerado.

Algumas se angustiam pensando que não vão ter a visita da família, não poderão ter aquele momento alegre de fotografar e filmar o parto, mas o foco agora é proteger esse indefeso.

O Mílite: E para as pessoas em geral?

Sheila: Manter a saúde emocional ajuda muito, não só nesse momento de pandemia. Ajuda a gente manter o equilíbrio e a imunidade. Então cuide da sua mente, dos seus pensamentos e sentimentos.

A dica que eu dou para todo mundo: faça as coisas que você gosta. Não se afaste das pessoas. O isolamento deve ser físico, mas ele pode continuar via internet. Essa ruptura muito grande, de contato, faz mal. Divida as suas angústias. Procure manter o sono e a alimentação em dia, também a espiritualidade. Mantenha o bom humor. Reorganize os pensamentos pensando sempre pelo lado positivo das coisas.

Não deixe o excesso de medo tomar conta da família e, para terminar, eu falo para as mães: Não se cobre. Não se exija a mesma produtividade que você tinha trabalhando dentro de uma empresa. Em casa, você tem interrupções, tem os contatos por redes sociais. E acredite: vocês estão fazendo o melhor que vocês podem. Ninguém é obrigado a ter atividade prazerosa 24 horas. Ninguém é obrigado a ter uma produtividade alta nesse momento. O mundo está em adaptação. Não se cobre. Vá com calma e eu tenho certeza que vocês estão se dando melhor do que vocês imaginavam. Muito amor e paciência, nesse momento, com todo mundo.

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