Por Armando Teixeira Em Cultura

O Pagador de Promessas

Um filme sobre a devoção popular

Divulgação
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“O Pagador de Promessas”, adaptado do texto original de Dias Gomes e dirigido por Anselmo Duarte em 1962, é até hoje o único filme nacional a receber no Festival de Cannes a “Palma de Ouro”, considerada por muitos o prêmio mais significativo do cinema em um júri internacional.

Na história, em uma pequena propriedade, localizada a 42 km da cidade de Salvador, moram “Zé do Burro” e sua esposa Rosa. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um raio. O camponês desesperado faz uma promessa diante da imagem de Santa Bárbara que encontra em um terreiro de Candomblé, para salvar a vida de seu burro. Quando o animal se recupera, Zé doa parte de sua propriedade e parte para pagar a segunda metade de sua promessa, levar uma cruz, tão pesada quanto a de Jesus Cristo, para dentro da Paróquia de Santa Bárbara, em Salvador, na Bahia. Pelas circunstâncias em que a promessa foi realizada o sacerdote local não permite que a promessa seja paga, levando as personagens a uma situação limite.

O filme propõe desta forma um debate muito sério sobre a fé e a religiosidade presentes na cultura do brasileiro. Sobre as “promessas” e “romarias”, que consistem na realização de um ato de fé ou de um sacrifício “em troca” de uma graça a ser alcançada, o Padre José Antônio Boareto, da Diocese de Bragança Paulista e professor da faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da PUC de Campinas afirma: “O Catecismo da Igreja Católica nos aponta que este tipo de devoção é ‘boa, enquanto eclesial’, ou seja, “enquanto conduz a Cristo e não busca merecer o céu através das obras”.

Para o Padre Boareto, as “promessas” como inculturação da fé são importantes enquanto forma de gratidão e nunca como uma moeda de troca por uma graça a ser alcançada. Em relação à atitude do sacerdote do filme que agiu com rigor e não permitiu que a promessa fosse paga, Padre Boareto opina: “É necessário perceber a época à qual pertence o sacerdote do filme e a formação que o mesmo recebeu. A Igreja Católica passou a viver uma outra realidade após o Concílio Vaticano II. Provavelmente hoje um sacerdote na mesma situação iria incentivar o diálogo, acolher o camponês que estava cansado, oferecer-lhe água, alimento e ter inicialmente uma preocupação maior com o amor por aquela pessoa e não com a situação da ‘promessa’ que iria ou não ser paga”.

Padre Boareto conclui que não são necessárias as “promessas” que implicam em sofrimento físico. “Não podemos esquecer que Deus quer a misericórdia e não o sacrifício. Uma peregrinação, romaria ou visita a um Santuário são gestos muito bonitos, assim como obras de caridade, realizar um trabalho pastoral, ser dizimista, tudo isto agrada o coração de Deus e não exige grandes sacrifícios que coloquem em risco a saúde do fiel”.

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Por Armando Teixeira, em Cultura

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