Igreja

Fraternidade e Educação

A pandemia não afetou somente a saúde do planeta, mas também a qualidade do sistema de ensino e o desenvolvimento educacional das crianças

Escrito por MI

13 MAR 2022 - 00H00

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Ana Cristina Ribeiro, Daniel Bandeira e Paulo Teixeira

Neste ano a Campanha da Fraternidade (CF) trata um tema muito importante para a sociedade: a educação. Este tema já figurou nas campanhas de 1982, 1998 e retorna agora em um novo contexto. Dentre os objetivos específicos da CF tem destaque a análise dos desafios para a educação, que foram potencializados com a pandemia.

O Papa Francisco alertou sobre o risco de uma “catástrofe educacional” decorrente desse tempo pandêmico e da crise econômica desencadeada por ela. Para o Papa, toda essa “tempestade” gera uma crise mais profunda afetando “a nossa forma de compreender a realidade e de nos relacionarmos entre nós”.

Miriane Aparecida Teixeira Leite é professora de Ensino Religioso no Colégio Franciscano Seibo, em Mogi das Cruzes - SP. Sobre os desafios da pandemia, ela destaca que “foi necessária a adaptação ao formato digital e e o estabelecimento de uma rotina concisa de estudos. No retorno notamos uma lacuna no aprendizado. Também a convivência faltou, porque ela é necessária para a aprendizagem. Acolhemos os alunos com muita atenção e muito amor porque o impacto não foi somente no aprendizado, mas impactou psicologicamente as crianças. O ensino híbrido foi um desafio, conversamos com as famílias para estabelecer uma nova forma de aprender”.

Frei Leonardo Matsuo criou, na década de 1960, o que hoje é o Colégio Franciscano Seibo, junto à colônia japonesa de Mogi das Cruzes - SP. Com sua experiência, tem um olhar particular sobre os desafios e mudanças que a atual “tempestade” trouxe: “Com a pandemia não estamos fazemos como antes. Sempre fazemos diferente mesmo mantendo as tradições. Estamos adaptando à realidade. Sempre é um desafio cuidar das crianças, mas precisamos nos adaptar muito. A adaptação é sempre um progresso”.

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Educação e vivência dos valores cristãos se mantiveram firmes como princípios do colégio, mesmo com adaptações à pandemia

Pacto Educativo Global

A Campanha da Fraternidade está em consonância a uma proposta do Papa Francisco e vai dar visibilidade ao Pacto Educativo Global. Em outubro de 2020 o Papa Francisco convidou instituições e governos a se unirem à iniciativa da Igreja Católica chamada de Pacto Educativo Global. Segundo o Pontífice, “a educação é um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo e a história”. O Papa apresentou sete compromissos que norteiam o caminho para que o pacto seja efetivo. São eles:

• Colocar a pessoa no centro de cada processo educativo.

• Ouvir as gerações mais novas.

• Promover a mulher.

• Responsabilizar a família.

• Se abrir à acolhida.

• Renovar a economia e a política.

• Cuidar da casa comum.

Família 

A CF destaca o papel da família e de todos os agentes da sociedade no empenho de uma educação de qualidade para as crianças. Segundo Frei Leonardo Matsuo: “Os pais dos alunos sempre colaboraram, se uniram muito e nos tornamos uma família. Todos tinham necessidades e interesse pelas crianças. Sempre ajudavam em diversas coisas. Os grupos da Igreja e da escola sempre trabalharam juntos em prol das crianças. Sempre houve familiaridade, sempre houve a consciência de que não era só a escola a responsável pela educação, mas também, e sobretudo, a família”.

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Miriane Leite, professora de Ensino Religioso

Miriane recorda que cada um tem seu papel no processo de educação e cada um deve assumir sua responsabilidade para que o processo seja eficaz. “A família é o principal espaço de referência e proteção para a pessoa. Fornece a força para formação e os valores éticos e religiosos. A família desempenha papéis decisivos na vida da criança e é necessária uma parceria com a escola. A família e a escola, cada um desempenhando seu papel, juntos estaremos formando pessoas conscientes e transformadoras da sociedade”, explica a professora Miriane.

CF na escola

O compromisso com a educação deve ser assumido por governos, instituições, pela sociedade e também pelas famílias. A CF também insiste no papel da família e da comunidade no processo educativo e estimula o serviço pastoral em escolas, centros comunitários e universidades. Educar não é somente transmitir informações, mas iniciar processos que influenciam toda a vida da pessoa.

Por isso o Papa convida para um novo humanismo comprometido com a pessoa por meio da educação. “A educação é, sobretudo, uma questão de amor e responsabilidade que se transmite, ao longo do tempo, de geração em geração. Por conseguinte, a educação apresenta-se como o antídoto natural à cultura individualista”, explica o Papa.

Segundo o Texto Base da CF: “Uma educação humanizada não pode limitar-se a fornecer um serviço de formação, mas também precisa cuidar dos seus resultados no horizonte das capacidades pessoais, morais e sociais dos participantes no processo educativo. Não pede simplesmente ao professor para ensinar e ao aluno para aprender, mas exorta cada um a viver, estudar e agir de acordo com as premissas do humanismo solidário” (227).

“O tema da Campanha da Fraternidade desse ano traz uma abrangência na proposta de trabalho. Vamos apresentar aos alunos a campanha e o objetivo, e vamos desenvolver durante as aulas essa temática com reflexões. Posteriormente, vamos transformar essa reflexão em práticas dentro e fora do colégio. Educar é ajudar a ver, compadecer e a cuidar, é importante salientar isso. E abordar a Campanha da Fraternidade é reforçar esse aspecto da educação. Concluímos a Quaresma com uma celebração com professores, colaboradores, professores, alunos e familiares, na qual trataremos o tema da Campanha da Fraternidade”, conta Miriane que articula anualmente a inserção dos temas da CF na dinâmica de alunos e professores do Colégio Franciscano Seibo.

Jesus Mestre

O cartaz da CF traz o lema bíblico inspirado no livro dos Provérbios e traz na ilustração a figura de Jesus que escreve no chão diante da mulher pecadora, conforme narrado no Evangelho de João 8,8. Não se sabe o que Jesus escreveu, mas imaginamos o teor de Suas palavras transformadoras.

Jesus, mestre que ensinou com a própria vida, é modelo para que as famílias e as comunidades se empenhem num processo educativo marcado pelo testemunho de vida e coerência com o Evangelho. Segundo o texto base da CF: “O testemunho de uma Igreja missionária é o princípio que qualifica o anúncio do Evangelho e a torna capaz de propor aos homens e às mulheres de boa vontade um novo aprendizado: educar é um ato de esperança no ser humano” (222).

Nesse sentido, é importante a ação pastoral nas escolas, conforme relata Miriane: “Tanto as aulas e as atividades pastorais proporcionam uma educação pautada nos valores cristãos e franciscanos, nos valores voltados para a dignidade. Os alunos recebem conteúdos para mudar a realidade, pouco a pouco, para melhor”.

Desafios

É importante para toda a sociedade ter clareza dos limites e das dificuldades que existem no processo educacional. Cada escola, cada região e cada aluno tem suas particularidades. Em diversas regiões do Brasil as estruturas das escolas prejudicam o acesso à educação, em outras regiões, há escolas sem ensino de qualidade.

Não faltam desafios e, por isso, a CF exorta a analisar cada contexto para agir em relação às dificuldades. Para Miriane, os desafios principais são: “Primeiramente é necessário criar um ambiente de confiança e empatia; depois temos novas plataformas e aplicativos que podem ajudar no processo de aprendizagem; e agora, no retorno da pandemia, precisamos de um acolhimento diferente e uma nova maneira de pensar diante dos desafios que temos”.

Tanto a CF com o Pacto Educacional Global e o momento presente chamam a atenção para a superação dos desafios. Chegou a hora de ir além, de dar um passo a mais no processo educativo. Esta é uma responsabilidade de todos, das instituições, dos governos e de cada pessoa em particular, dos professores aos pais de alunos, todos devem estar comprometidos com as transformações que a educação traz para a sociedade.

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Frei Leonardo Matsuo, Frade Menor Conventual

Colégio Franciscano Seibo

A história do colégio começa em 1965 como uma escola dominical para catequese dos filhos de imigrantes japoneses em Mogi das Cruzes - SP. Em 1967 foi construída uma casa para receber os freis que vieram do Japão, posteriormente uma igreja, que atualmente é dedicada a São Maximiliano Kolbe, e as instalações para as crianças que pouco a pouco se tornaram um colégio. Em 1964 foi inaugurado o jardim da infância para atender o aumento das crianças; na década de 1990 a congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, de Nagasaki, atuaram diretamente na área educacional; em 1998 passou a ser denominado Centro Educacional Seibo e a atender também o Ensino Fundamental; em 2015 passou a ser oferecido também o Ensino Médio. Atualmente o nome da instituição é Colégio Franciscano Seibo, palavra que em japonês quer dizer Mãe de Deus, e possui excelência pedagógica e humana pautada nas virtudes humanas e cristãs.

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