Por Eduardo Galindo Em Psicologia

A “medicalização” da vida

A descoberta dos psicofármacos na década de 1950 foi um grande avanço no atendimento psiquiátrico após a Segunda Guerra Mundial. Antes desse período, várias práticas médicas foram desenvolvidas para dar conta da população que apresentava sofrimentos





A experimentação de diversas práticas foi condenada pelo caráter humilhante e desumano a que submetiam milhares de pacientes nos hospitais psiquiátricos como o de Barbacena - MG e o conhecido Juqueri, em Franco da Rocha - SP. Felizmente a biomedicina voltada à psiquiatria se desenvolveu bastante, melhorando a qualidade de vida de pacientes que não precisam mais se afastar do convívio familiar e do trabalho. Mas, nas últimas décadas, tem-se observado um exagero na utilização desses medicamentos, tornado-se um fator de risco para a população.

Nos países desenvolvidos e na América Latina, a sociedade deslocou os problemas da realidade emocional e social das pessoas para o campo médico, e a obsessão pela saúde perfeita tornou-se um fator patológico predominante.

Existe um manual médico que já está na 11º edição, conhecido como CID-11, em que qualquer pessoa facilmente se identificará com uma daquelas “doenças”. Na prática clínica diária, e por diferentes motivos, colocamos “rótulos de doença” em comportamentos ou eventos que nada mais são do que elementos que compõem o caráter ou modo de ser das pessoas, ou são reações a situações de vida que ocorrem, como conflitos de trabalho, família, relação conjugal e escolar.

No consultório, eu recebi inúmeros pacientes que foram medicados sem nenhuma precisão, como jovens que foram medicados para aumentar a concentração para passar nos vestibulares ou concursos públicos; crianças para diminuir a ansiedade para brincar com os pais; pessoas enlutadas para suportar a perda de um ente querido. E algumas pessoas automedicam-se por conta própria para eliminar desconfortos que fazem parte da vida. As dificuldades contribuem para o desenvolvimento pessoal e eliminá-las por meio de medicação pode ser um grande risco para a própria vida.

O acompanhamento psicoterapêutico é sempre recomendado para as pessoas que apresentam sofrimento mental e para aquelas que desejam o autoconhecimento e tomar as rédeas da condução de sua vida. “Medicalizar” a vida acaba com a nossa saúde e nos incapacita como indivíduos.

Escrito por
Eduardo Galindo (Divulgação)
Eduardo Galindo

Psicólogo Clínico, especialista em Psicoterapia Breve. Suas áreas de atuação são psicoterapia de adultos, grupos e casal, workshop, e assessorias de grupos e palestras.

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Por Eduardo Galindo, em Psicologia

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