Por MI Em Reportagem Atualizada em 18 OUT 2021 - 14H21

Missão de amor

Uma homenagem aos profissionais que deram a vida para salvar outras na corrida exaustiva contra a Covid-19

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Por Ana Cristina Ribeiro e Núria Coelho

Incansável dedicação, responsabilidade com a vida, amor para com cada paciente, horas e horas de plantão, e comprometimento com histórias. Essas são algumas das muitas virtudes dos profissionais que escolheram cuidar da saúde das pessoas como missão.

Em uma audiência em homenagem aos profissionais da saúde, o Papa Francisco disse: “A dedicação de quantos, inclusive nestes dias, estão comprometidos nos hospitais e nas estruturas sanitárias é uma ‘vacina’ contra o individualismo e o egocentrismo, e demonstra o desejo mais autêntico que mora no coração do homem: ficar ao lado daqueles que mais precisam e se doar por eles”.

Um ano e meio depois do início da pandemia, infelizmente há profissionais que ainda enfrentam este cenário sobre-humano, numa rotina exaustiva e sem trégua. Em vez de esperança, o contexto é de caos em uma tragédia que parece não ter fim.

Servir ao próximo

É com esse propósito que há dois anos se iniciava uma das missões mais aguardadas por populações isoladas do interior da Amazônia. O Barco-Hospital Papa Francisco, construído também em homenagem ao pontífice da Igreja Católica, já mudou a vida de muitas pessoas que não teriam como ter acesso à saúde nos grandes centros.

Idealizado pela Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, o Barco-Hospital foi inaugurado oficialmente em agosto de 2019 na cidade de Belém, no Pará. O barco realiza várias excursões durante o ano com equipes médicas.

São duas excursões por mês. Desde a sua inauguração até 2021, mais de 137 mil pessoas foram beneficiadas com a iniciativa. O objetivo é dar assistência à população ribeirinha e a comunidades indígenas de várias regiões à beira do Rio Amazonas. Murilo Antunes, médico cardiologista, é voluntário no barco e fala da importância do projeto na vida das pessoas da região: “O barco é extremamente organizado, bem estruturado, tem até um centro cirúrgico.

Um hospital de média complexidade que possui uma equipe médica que atende as demandas necessárias da região: clínicos, cardiologistas, ginecologistas, especialistas em exames de imagem, radiologistas, dando suporte e atendimentos para essa população que muitas vezes está há muito tempo sem acompanhamento médico”, disse.

O Barco-Hospital possui uma estrutura de 32 metros de extensão e conta com 60 profissionais entre tripulantes, médicos, enfermeiros, cozinheiros e faxineiros, que se revezam em expedições que duram de 7 a 10 dias.

Além da atenção básica de saúde à população, as equipes atuam na prevenção e diagnóstico precoce do câncer com a realização de exames e triagem. Quando há quadros mais graves e urgentes eles encaminham para hospitais maiores da região: “O barco possui duas lanchas, chamadas de ‘Ambulanchas’, que encaminham casos mais graves para centros hospitalares maiores em cidade próximas como Santarém e Juruti, no Pará que tem um hospital coordenado pelos franciscanos, que atendem essas demandas mais graves”, reforçou o cardiologista.

Um ano e meio após o início da pandemia o hospital continua atuando no combate ao novo coronavírus. Para atender a pacientes com sintomas da Covid-19, o Barco-Hospital foi morada de equipes de saúde, que atenderam durante o mês de março até junho deste ano em excursões exclusivas: “Conforme a necessidade da região amazônica, que foi fortemente atingida pela contaminação no novo coronavírus, atuamos prontamente para atender as demandas de Covid”, lembrou Murilo.

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A radiologia se tornou a profissão da vida do técnico Rick Maycon

Imagens que salvam vidas

Escolher ser um profissional da saúde é também escolher viver intensamente a profissão e foi desta maneira que Rick Maycon Bispo da Silva encarou a jornada de trabalho como técnico em radiologia médica.

Os desafios da profissão são inúmeros, mas a opção que prevalece é a de dar assistência e conforto ao paciente. É nessa perspectiva que o técnico em radiologia acompanha seus pacientes do Complexo Hospitalar Márcia Maria Braido e Zerbini, no ABC Paulista.

A escolha da profissão surgiu de forma espontânea. “Num certo dia, quando estava assistindo televisão, uma reportagem me chamou bastaste a atenção. Um campo de tomografia onde o tecnólogo estava realizado alguns exames de imagem! E num dado momento da entrevista ele disse uma frase que me chamou muito a atenção: ‘Uma imagem pode salvar uma vida’. Eu creio que isso fez eu me apaixonar pela área e decidir seguir carreira nesta profissão”.

O cenário pandêmico também foi uma sobrecarga para o profissional da radiologia. Causou angústia, medo, insegurança, mas o trabalho teve que seguir. Para o jovem Rick a saúde pública se tornou grande heroína nesse caos: “Creio que se não fosse o Sistema Único de Saúde (SUS), muita gente não estaria aqui para contar história. Neste tempo de pandemia foi de extrema importância ter o SUS para fornecer diagnóstico e tratamento contra o coronavírus”.

A pandemia deixou a rotina de trabalho de Rick muito mais agitada e corrida, contudo, o que mais foi difícil para o técnico foi manter a saúde mental: “Uma luta psicológica contra algo invisível. Preocupações não só comigo, mas sobretudo com os meus familiares. Me vi em um cenário de guerra muitas vezes. Lutando contra a doença e contra os medos que me cercavam”.

Rick disse que a pandemia foi um dos momentos cruciais na sua carreira e que teve momentos em que pensou em desistir: “Tinha momentos em que eu olhava para um lado, olhava para o outro e só via tubos e pessoas entubadas! Pior cenário que vivenciei. Chegou um certo momento em que olhei para um lado, olhei para outro e falei: Meu Deus, será que é o fim?”.

Hoje, após a chegada da vacina, Rick passou a ver a situação com mais otimismo e com a esperança de que a pandemia pode acabar: “Pense bem, não seja imprudente, cuide-se e cuide do outro, ame, perdoe. Diga para a pessoa mais importante da sua vida o quanto você a ama!”, recomenda o profissional da saúde.

Para salvar vidas

Com sorriso no rosto e olhar de esperança a enfermeira e também docente do curso técnico em enfermagem da Fundação Educacional de Fernandópolis, em São Paulo, Antonilce Aparecida Pansani Soaretem, acolhe diariamente os pacientes da Unidade de Pronto Atendimento da cidade interiorana, onde atua há dois anos.

A docente se apaixonou pela enfermagem quando ainda trabalhava na área administrativa da Santa Casa da cidade. Para ela o maior desafio da profissão é a falta de reconhecimento, o que vem desmotivando muitos profissionais da saúde.

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Em mais um plantão, a enfeira Antonilce acolhe os pacientes com alegria e esperança

A pandemia também sobrecarregou os enfermeiros. Trouxe sentimento de impotência e tristeza e jornadas longas de trabalho: “Foram tempos de muita exaustão. Saber que eu escolhi enfermagem para salvar vidas e me vi impotente em muitos momentos, sem poder fazer nada para ajudar o próximo, foi a pior sensação”, destacou Antonilce que tem certeza de que a pandemia vai passar, mas para isso cada cidadão precisa fazer a sua parte.

A jovem estudante de enfermagem Amanda Lino Costa, encontrou na pandemia a certeza de que a profissão da sua vida é ser enfermeira: “Em meio à pandemia, estando na linha de frente, vi o quanto os profissionais da saúde estavam angustiados por não darem conta de tanta demanda, mas dando o melhor de si para que o paciente saísse vivo e saudável. Essa luta me fez ter certeza de que eu queria seguir carreira na área de enfermagem. Escolhi essa profissão, pois farei o que mais gosto: ajudar as pessoas”, afirmou.

Atualmente a jovem trabalha como recepcionista no Complexo Hospitalar de São Caetano do Sul, em São Paulo. Para Amanda a pandemia ensinou o verdadeiro sentido dos pequenos gestos: “A prevenção, o isolamento foram primordiais para proteger as pessoas que amamos. No início parecia ruim, mas o isolamento trouxe para mim momentos únicos com a minha família. Momentos que na correria do dia a dia foram deixados para trás”, disse.

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Keli Cristina precisou usar oxigenio todos dias em que esteve internada

Gratidão aos heróis da atualidade

Com os olhos marejados e um sorriso aliviado, a analista de tesouraria, Keli Cristina de Medeiros Batista, falou sobre a gratidão pela vida e por todo cuidado médico que recebeu quando foi internada com Covid-19, em fevereiro deste ano.

A consulta era de rotina, mas o médico desconfiou que ela estava infectada e pediu o teste que confirmou a contaminação. A luta para sobreviver veio também da força e do carinho que os profissionais da saúde dispuseram, um alento em todo processo de recuperação da Keli: “Desde que entrei no hospital vi profissionais incríveis. Médicos dobrando plantão, mais de dezoito horas de trabalho, sem sequer parar para se alimentarem. Um cenário de guerra”.

Keli teve toda assistência necessária durante a internação e depois que recebeu alta. “Fui amparada por fisioterapeutas, auxiliares e técnicos de enfermagem, médicos dia e noite. Eu precisei ser entubada, precisei usar fraldas e até para virar na cama eu precisava de ajuda. Fiz acompanhamento pós-Covid por três meses e lá estavam eles também. Tenho gratidão pela vida de cada profissional da saúde”.

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