Reportagem

Um novo olhar para a saúde do homem

No Brasil, em média, homens vivem sete anos a menos do que as mulheres, sendo a expectativa de vida ao nascer de 80 anos para mulheres e de 73 anos para homens. A causa disso, em parte, é por falta de atenção com a saúde

Escrito por Ana Cristina Ribeiro e Núria Coelho

15 JUL 2022 - 00H00

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A saúde é uma prática de cuidado e bem-estar que deveria fazer parte da vida de todas as pessoas, no entanto, a saúde masculina ainda é um tema pouco abordado e discutido em comparação à saúde da mulher.

É fácil perceber que os homens não são atentos quando o assunto é saúde, pois eles têm se mostrado ainda pouco ativos no cuidado com ela e, quando procuram ajuda, às vezes esbarram em obstáculos, como a falta de um olhar adequado de profissionais da saúde e de serviços que acolham as demandas masculinas. Ainda assim, com todos os obstáculos que abarcam essa relação, há campanhas de conscientização, como Novembro Azul, que buscam intensificar a importância dos cuidados com a saúde masculina. Neste mês também comemora-se, no dia 15 de julho, o Dia Nacional da Saúde do Homem.

A data foi instituída para incentivar a prevenção da saúde desse público. A cada ano, são criadas iniciativas de empresas, instituições e órgãos governamentais para estimular o autocuidado e a promoção da saúde entre os homens.

Alguns dos fatores de risco que envolvem a saúde masculina são problemas cardiovasculares (infarto, AVC), a obesidade, a diabetes e a hipertensão, além dos problemas urológicos como câncer de próstata, próstata aumentada e problemas renais. Nos homens mais jovens, podemos encontrar as doenças sexualmente transmissíveis e os tumores de testículo. Entre as causas mais comuns de ida ao urologista estão todos os problemas da próstata (benignos e malignos), infecções de pele na região do pênis e os cálculos renais, que também são mais frequentes nos homens. Além disso, temos os homens que vêm sem nenhuma doença, apenas para realizar um check-up.

O médico especialista em saúde masculina é o andrologista. Especialidade nomeada a partir da palavra grega andros que quer dizer homem. Conversamos com o andrologista e urologista doutor Paulo Esteves. Para o médico, a realização de exames periódicos é essencial e “para o homem saudável, sem doenças, de qualquer idade, é recomendável que vá uma vez ao ano para conversar, ser examinado e realizar exames laboratoriais de rotina. Caso já exista algum problema de saúde, esta frequência pode aumentar, de acordo com cada problema”. 

Infelizmente ainda têm muitos homens que não se cuidam preventivamente, por preconceito ou falta de informação, e acabam chegando ao médico com algum problema já em estágio avançado: “Isto acontece muito com o câncer de próstata, que não provoca sintomas nas fases iniciais e, por isso, muitos homens não vão ao médico. Quando sentem algo, geralmente a doença já está avançada e pode não ser mais curável”, ressalta o andrologista.

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Preservar a saúde com confiança e otimismo

Em 2006 o escritor Jorge Lorente, na época com 62 anos, foi surpreendido com o diagnóstico de câncer de próstata em estágio avançado. Ao receber a notícia, ele e a esposa não puderam esconder o susto e a preocupação sobre o que viria pela frente: “Eu fiquei assustado, a Bete, minha esposa, ficou muito preocupada. Contudo, agradeci a Deus por ter sido eu o escolhido para enfrentar essa luta. Falei para a Bete, que se fosse um dos nossos filhos, ou um dos nossos netos, eu ficaria muito arrasado, sem rumo. Graças a Deus aconteceu comigo, pois vamos fazer tudo que for necessário para me curar. E com fé, otimismo e confiança eu consegui passar por tudo. Bastaram 40 radioterapias e uma série de injeções que tomo até hoje, e graças a Deus tudo correu bem”.

Jorge não tinha o hábito de ir ao médico com frequência. Fazia exames periódicos e foi em um deles que descobriu que estava com câncer. Desde quando recebeu o diagnóstico, o escritor viu a necessidade de mudar a alimentação, deu mais prioridade para alimentos com menos açúcar, sal e gordura, e incluiu na sua rotina o exercício físico, como caminhada, e atualmente se dedica a andar de bicicleta: “Estou com 78 anos e hoje tenho uma vida mais saudável. Procuro andar de bicicleta e tento não perder esse esse hábito. Quando não posso pedalar, faço uma caminhada para não perder o ritmo”.

O câncer de próstata é uma das doenças que mais afeta a saúde do homem. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) há 65.840 novos casos a cada ano, entre 2020 e 2022. Homens com mais de 55 anos, com excesso de peso e obesidade, estão mais propensos à doença.

Doutor Paulo Esteves ressalta: “A recomendação, atualmente no Brasil, é que todos os homens acima de 50 anos, e homens acima de 45 anos que tenham parentes de primeiro grau com câncer de próstata, iniciem as consultas anuais para Investigação e rastreamento da doença, quando será feito o exame de toque da próstata e solicitado o exame de PSA no sangue”.

Ainda existem muitos mitos acerca da saúde do homem e essas informações equivocadas os impedem de cuidarem de si mesmos, o que pode impactar e muito na saúde masculina, como destaca doutor Paulo: “Frequentemente atendo homens de todos os níveis sócio-econômicos, que aos 60 ou 70 anos nunca haviam ido ao urologista na vida. Em geral, o motivo é medo, vergonha ou preconceito com os problemas genitais, urinários ou sexuais. Sem exceção, todos admitem após a consulta que não deveriam ter tido esse preconceito, que não havia motivo para não se cuidar”.

Um incentivo para a saúde

O aposentado Carlino Caetano nem sempre se preocupou com a saúde. Foi a partir de uma consulta dermatológica que viu a necessidade de se cuidar. Começou fazendo exames de rotina, descobriu uma alteração na tireóide e a partir desse primeiro checkup ele passou a ter o hábito de ao menos uma vez por ano fazer exames básicos: “Antes eu tinha uma vida mais monótona, hoje eu caminho. Ao invés de ir ao mercado, ou a algum estabelecimento próximo de casa de carro, eu vou a pé e volto a pé. Mudei a alimentação, procuro comer mais alimentos cozidos do que fritos. E não abro mão de fazer a minha caminhada”.

Seu Carlino é um grande incentivador quando se trata de estar em dia com a saúde. Para ele, cuidar da saúde é cuidar da vida como um todo e recomenda aos amigos que procurem ir ao médico pelo menos uma vez por ano: “Eu sempre gosto de expor o quanto é importante se cuidar. Eu gosto muito de conversar e nessas conversas da sala de espera eu incentivo os homens a cuidarem mais da saúde”.

Segundo o doutor Paulo, as mulheres, em geral, costumam frequentar desde jovens o médico ginecologista. “Os homens precisam ver o urologista como o médico do homem e entender que a medicina preventiva é a melhor forma de cuidar da saúde. Não esperem ter algum sintoma para procurar ajuda, procurem o médico de rotina para prevenção”, ele explica.

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Saúde e prevenção

No início de 2010, Dom Pedro Luiz Stringhini, Bispo da Diocese de Mogi das Cruzes, em São Paulo, tomou um grande susto quando sofreu um infarto. Pouco antes, o bispo já estava cuidando da saúde, pois os exames médicos haviam apontado colesterol alto, e o excesso de peso também foi um agravante para que o estado de saúde dele piorasse: “Eu já estava num ritmo mais saudável, fazendo exercícios físicos e, ainda assim sofri um infarto no início do ano de 2010, mas acredito que o fato de estar me cuidando antes, me ajudou a sobreviver a esse acontecimento que fez repensar profundamente sobre os cuidados com a minha saúde. Passei a me cuidar ainda mais. Em 2021 estava mais atento, me alimentando saudavelmente e fazendo academia, mas neste ano a vida ficou mais corrida e, por isso, não estou tão cuidadoso como antes. Tenho consciência de que preciso estar mais atento. Tenho feito exames periódicos corretamente, contudo, estou deixando a desejar na parte de exercícios físicos e alimentação”.

Os mitos em torno dos cuidados com a saúde masculina também são um grande empecilho que ajuda a levar desinformação sobre o assunto, como explica doutor Paulo: “Precisamos levar informação séria sobre saúde, de maneira simples e fácil de entender, a todos os homens e também às mulheres que muitas vezes precisam cuidar desses homens, sejam esposas, filhas ou mães. Com essa informação passada de maneira objetiva e clara, podemos acabar com mitos e lendas que impedem os homens de se cuidarem”.

Aderir a um estilo de vida saudável e equilibrado é desafiador para todos os públicos, sobretudo o público masculino. No Brasil, quase 40% dos homens até 39 anos e 20% daqueles com mais de 40 só vão ao médico quando se sentem mal. Boa parte deles não tem ideia de como anda o coração nem faz exames cardiológicos. E um terço enxerga no bem-estar mental o principal desafio para ter mais saúde hoje.

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