Como os evangelistas Mateus e Marcos, Lucas também apresenta João Batista como precursor de Jesus. Neste sentido, a missão do Batista é preparar os caminhos para o anúncio do Evangelho que Jesus haverá de fazer.
João Batista não exerce seu ministério no templo de Jerusalém ou nas sinagogas espalhadas pelo país. Ele é o “pregador do deserto”. O deserto possui profundo significado bíblico, porque é lugar desprovido de recursos e não produz nada. Ninguém pode ser atraído para o deserto por interesses materiais.
Sendo um lugar livre de interferências externas, é ideal para encontrar Deus. Com efeito, foi no deserto que o povo de Deus foi formado para Aliança, ao longo de quarenta anos.
O anúncio feito por João Batista no deserto era essencialmente um apelo à conversão. A acolhida desse apelo era expressa pelo batismo nas águas do Jordão. O batismo ministrado por João, portanto, implicava reconhecimento dos próprios erros e decisão de mudar de vida. Era um batismo de penitência que confirmava uma inversão no estilo de vida e, ao mesmo tempo, pressupunha a atuação de Deus que perdoa as culpas. A conversão religiosa, portanto, é um movimento que desemboca na experiência da libertação do pecado que impede ao ser humano um relacionamento profundo e livre com Deus.
No trecho do Evangelho de hoje, cita-se a profecia de Isaias que proclama que os vales serão aterrados, as colinas e montanhas aplainadas e os caminhos tortuosos transformados em linhas retas. Estas imagens indicavam que nenhum obstáculo haveria de impedir a ação de Deus para libertar o povo de Israel da escravidão na Babilônia. Ele iria tirar o seu povo da terra da escravidão e trazê-lo de volta à Terra Prometida com uma atuação tão maravilhosa que seria como um “Novo Êxodo”, uma “nova Criação”. Com a citação do texto de Isaías, o evangelista quer afirmar que libertação definitiva e a renovação completa da criação se realizarão com a missão do Messias, que está sendo preparada pelo ministério de João Batista. Todos podem estar confiantes porque nada vai impedir a atuação salvadora de Deus.
É, portanto, uma mensagem de esperança para o ouvinte do Evangelho de todos os tempos e lugares. Certamente, como os cristãos de outrora, também nós, hoje, temos crises de fé e, tantas vezes, somos tomados pela falta de esperança. De fato, são enormes os desafios da humanidade: guerras, pobreza e fome que afligem enormes parcelas das populações da terra, violência – especialmente nos grandes centros urbanos –, dependência química, grandes problemas ambientais que colocam em risco a vida no planeta, e tantos outros impasses.
Com razão, nos sentimos pequenos e insuficientes diante de tudo isso. Mas, o evangelho de hoje nos exorta à esperança. Por mais que nossos problemas, sociais ou pessoais sejam grandes como montanhas irremovíveis ou profundos como abismos intransponíveis, podemos manter a esperança porque nossa salvação vem do Senhor e nada impedirá a sua atuação. É Ele a razão da nossa esperança.
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