Por Núria Coelho Em Cidadania

Recursos de água doce disponíveis baixam mais de 20% em duas décadas

Cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem em locais onde a falta de água é um desafio para a agricultura

ONU NEWS
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Na América Latina 40% da água residual é devolvida ao meio ambiente sem tratamento


Mais de 3 bilhões de pessoas vivem em áreas agrícolas com níveis altos a muito altos de escassez de água. Quase metade dessas pessoas enfrentam severas restrições.

Essa é uma das conclusões do relatório Estado da Alimentação e da Agricultura 2020, publicado esta quinta-feira pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO. Em inglês, o documento é conhecido pela abreviatura Sofa.

Objetivos


Globalmente, os recursos de água doce disponíveis por pessoa diminuíram mais de 20% nas últimas duas décadas, destacando a importância de produzir “mais com menos”, especialmente no setor agrícola, o maior usuário de água do mundo.

Em entrevista à ONU News, de Roma, o diretor do Escritório de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Meio Ambiente da FAO, Eduardo Mansur, alertou para os desafios que esta pressão crescente está criando.

“Existe uma competição crescente que gera tensões para o acesso ao uso da água e as pessoas mais vulneráveis continuam sendo as mais afetadas. Esse relatório se concentra em três grandes objetivos. O primero é garantir maior produtividade na agricultura, seja na água de irrigação seja na agricultura de sequeiro, alimentada pelas águas das chuvas. Apenas obtendo maior produtividade por cada gota de água distribuída vamos conseguir diminuir a demanda e compatibilizar as necessidades da agricultura e outros setores que também precisam de água.”

O segundo objetivo está relacionado à necessidade de proteger os fluxos ambientais naturais para manter as funções dos ecossistemas. Eduardo Mansur dá o exemplo de manutenção das bacias hidrográficas, dizendo que é preciso conservar os recursos hídricos nas suas origens, como montanhas, nascentes e zonas florestais.

O terceiro objetivo é a garantia de um acesso equitativo deste recurso para todos.

“É um direito humano. Todas as pessoas têm de ter acesso a água limpa, a água para a sua sobrevivência, e isso faz tanto parte do ODS 6, relacionado com a água, como o ODS 10, sobre equidade, e o ODS 2, sobre a eliminação da fome e da subnutrição. A água é um elemento essencial em todos os processos e o acesso equitativo e justo, por todas as pessoas, é uma necessidade que tem de ser garantida de forma a que isso possibilite um desenvolvimento humano sustentável.”

Conclusões

No relatório, o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, diz que “a FAO está enviando uma mensagem forte”, afirmando que estes problemas “devem ser tratados imediatamente e de forma ousada para cumprir a promessa de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODSs.”

A pesquisa aponta várias soluções, como investimento na coleta e conservação da água em áreas de sequeiro e a reabilitação e modernização de sistemas de irrigação sustentáveis.

Essas soluções devem ser combinadas a melhores práticas agronômicas, como a adoção de variedades de culturas tolerantes à seca e ferramentas de gestão da água. A contabilidade e auditoria da água continuam, no entanto, sendo o ponto de partida para qualquer estratégia eficaz.

Metas

Segundo a FAO, a meta do Fome Zero ainda é possível, mas apenas garantindo o uso mais produtivo e sustentável da água doce e da chuva na agricultura, o que representa mais de 70% do consumo global de água.

Cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem em locais onde a escassez de água é um desafio para a agricultura.

Quase 40% delas vivem no leste e sudeste da Ásia. A Ásia Central, o Norte da África e a Ásia Ocidental também são gravemente afetadas, com cerca de uma em cada cinco pessoas nessa situação.

Em comparação, apenas 4% dos moradores da Europa, América Latina e Caribe, América do Norte e Oceania vivem em locais com esse desafio.

Cerca de 11% das terras cultiváveis ​​de sequeiro do mundo, ou 128 milhões de hectares, enfrentam secas frequentes, assim como quase 14% das pastagens, ou 656 milhões de hectares. Ao mesmo tempo, mais de 60% das terras cultivadas irrigadas apresentam grande escassez de água.


Onze países, todos no norte da África e na Ásia, enfrentam ambos os desafios.

Preço

A pesquisa revela que “a água deve ser reconhecida como um bem econômico que tem um valor e um preço”. A FAO afirma que práticas que a consideram como uma mercadoria gratuita costumam criar falhas de mercado.

Para a agência, o estabelecimento de um preço, refletindo o verdadeiro valor da água, envia um sinal claro aos consumidores para usar o recurso com sabedoria.

Entre 2010 e 2050, projeta-se que as áreas irrigadas colhidas cresçam na maioria das regiões do mundo e mais que dobrem na África Subsaariana, potencialmente beneficiando centenas de milhões de habitantes rurais.

Esse é um caminho promissor para a África Subsaariana, onde apenas 3% das terras agrícolas estão equipadas para irrigação, mas muitos fatores impedem a sua adoção, incluindo a falta de garantia da posse da água e acesso a financiamento e crédito.

Fonte: ONU NEWS

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