Por Rede Imaculada Em A Igreja no Rádio

Silêncios perigosos: indiferenças

Reflexões com Padre Attílio Hartmann

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Reflexões com Padre Attílio Hartmann


Hoje o Programa A Igreja no Rádio trouxe como pauta os silêncios que causam preocupação e que deixam um rastro de indiferença, desamor e morte no mundo, assim como na Igreja.

O programa ‘A Igreja no Rádio’ vai ao ar diariamente na Rádio Imaculada e traz mensagens edificantes a cada manhã. Acompanhe, neste dia 18 de fevereiro, Pe. Attílio Hartmann, jesuíta, jornalista, Diretor da Livraria e Editora Padre Reus e do Jornal Solidário, em Porto Alegre (RS). Ele é entrevistado por Denis Santos.

Padre Attílio, de que silêncios vamos falar em nosso encontro de hoje?

Vamos falar dos silêncios diante de injustiças, de calúnias, de qualquer maldade que testemunhamos, de tanta coisa ruim que acontece à nossa volta. E muitas vezes, por covardia ou para não nos incomodarmos, não dizemos nada, ficamos quietos, silenciamos.

Mas, hoje eu queria falar dos silêncios da Igreja e, mais particularmente, da instituição Igreja Católica romana. E me valho de um artigo do teólogo espanhol, José Maria Castillo. Ele diz: o que teria que preocupar a todos nós são, sobretudo, os silêncios da Igreja. Os silêncios do clero. E os silêncios daqueles que dizem que somos crentes em Cristo.

No relato da paixão e morte de Jesus, o Evangelho de João recorda um episódio tão humilhante quanto eloquente: a primeira bofetada que um guarda deu em Jesus, na frente do sumo sacerdote Anás. Por que semelhante desprezo ali e naquele momento? Simplesmente porque Jesus disse a Anás que ele tinha 'falado ao mundo com liberdade' e que não havia 'dito nada às escondidas'. Está claro: Jesus não suportava os segredos e as ocultações. Na mesma medida em que o tribunal sagrado não suportava a liberdade daqueles que dizem toda a verdade, sem se calar, mesmo que isso lhes custe o cargo, a dignidade e até a própria vida.

Padre Attílio, se a Igreja fosse mais fiel a essa conduta de Jesus, teria que suportar, não uma, mas muitas bofetadas. Muito mais do que já suportou e está levando, não é mesmo?

Já está levando muitas bofetadas, sim. Isso é bom sinal. O Papa Francisco que o diga, ele é o alvo preferido. E bofetadas mais de dentro da Igreja do que de fora. Aliás, o próprio Jesus já alertava seus discípulos sobre perseguições e até chegou a dizer: “Virá um tempo em que, quem matar vocês, pensará oferecer culto a Deus” (Jo 16, 2). Gente amiga, só pode dizer que crê no Deus revelado por Jesus quem não se cala diante do sofrimento daqueles que são maltratados pela vida e pelos poderes públicos, independente de cor, de raça, de religião, de status econômico-social ou de opção política.

A fé em Deus tem sempre um componente de compromisso com as pessoas e sua realidade. Mas, voltemos aos silêncios que mais preocupam, Padre Attílio.

Bem, repito: o que teria que preocupar a todos nós, cristãos, são, sobretudo, os silêncios da Igreja. Os silêncios do clero. Silêncios em tantas coisas que clamam ao céu. Mas agora mesmo – e acima de tudo – em dois silêncios de enorme gravidade e urgência. A começar pelo silêncio diante de tantos e tantos escândalos clericais de “homens da Igreja” que abusaram de crianças e adolescentes. Abusos criminosos que as autoridades eclesiásticas ocultaram ao longo de séculos. Era uma determinação que vinha do Vaticano, para que o prestígio da Igreja não fosse prejudicado. Teve que vir o Papa Francisco, que “tirou o manto”, para que se saiba tudo e se faça justiça. O mais sofrido e preocupante é o que este Papa precisa suportar, pela resistência do clericalismo fanático, que não suporta a transparência que desvelou a falta de vergonha de não poucos setores do mundo clerical.

Estão acontecendo algumas iniciativas e o Papa Francisco quer “tolerância zero” com padres e bispos pedófilos. E qual é o outro silêncio que preocupa, Padre Attílio?

Pois o outro silêncio preocupante que estamos vivendo é o silêncio de muitos bispos e do clero em geral, que inexplicavelmente se calam diante dos políticos e governantes que, com suas decisões, são responsáveis pelo sofrimento de milhares e milhares de criaturas inocentes. Por outro lado permitem e incentivam a concentração do capital mundial, cada vez mais, nas mãos de menos pessoas. Por tudo o que nos foi passado pelos que escreveram sobre Jesus fica claro que ele não suportava o sofrimento dos pobres, doentes, marginalizados e estrangeiros. Como também não suportava o desprezo ou a desigualdade com relação às mulheres. Silêncios que preocupam. E que podem matar, gente amiga, podem matar. A covardia do silêncio quando falar. E mesmo gritar é preciso. Mata, mata sim. Testemunhamos isso todos os dias. Um beijo livre no coração de cada um e vocês, fiquem com Deus, fiquem com a gente também. E até nosso próximo encontro.

Ouça abaixo esta entrevista:


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