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Primeiro, só no nome

No caminho, os discípulos de Jesus tinham discutido sobre qual deles era o maior. Então Jesus chamou os Doze e disse: “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos” (Mc 9,34-35)

Jorge Lorente

Escrito por Jorge Lorente

26 SET 2022 - 16H17

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Na minha juventude, havia muitas famílias de imigrantes, vindas da Itália, do Japão, da Espanha, da Alemanha, de Portugal, da Rússia, entre outros. Eu me criei mais próximo dos italianos, por isso conheci algumas particularidades dessas famílias.

Na época, raramente uma família tinha menos de dez filhos. As crianças recebiam lindos nomes de procedência italiana, no entanto, para alguns, era dado o nome por ordem de chegada na família, por isso era comum encontrarmos pessoas com o nome de Segundo, Quinto (pronuncia-se Cuinto), tinha ainda o Sétimo ou Sétima.

Não raro, era dado ao primogênito o nome de Primo. Segundo o dicionário, primo, em italiano, significa primeiro: ‘o que vem antes dos demais’. Certo dia eu tive a alegria de conhecer o Primo. Morava em Ibirá, interior de São Paulo. Era tio da Bete, mas me adotou como sobrinho. O tio Primo, de fato, era o primeiro, o primogênito da família Fiorin, no entanto, sempre se colocava após os demais.

Era ele o primeiro a oferecer a sua casa para passarmos nossas férias. Dono de um enorme coração, por isso, eu acredito que ele seria o primeiro a oferecer sua roupa a um desabrigado e seu prato de comida para um faminto. Era o primeiro a visitar um parente, um amigo, doente ou necessitado. Jamais vou me esquecer das pescarias que fizemos juntos, eu, ele e o Joãozinho, seu filho.

Ele nos fazia sentar nos melhores lugares na beira do rio, onde, teoricamente, havia maior probabilidade de pescarmos peixes maiores, ou melhores. Mais uma vez, se colocava no último lugar. Só depois que os companheiros estavam confortavelmente instalados, ele ia procurar um local apropriado para pescar. A cada peixe que fisgávamos, ele vibrava tanto quanto nós. Sua felicidade era ver- -nos felizes. A canção Utopia, do padre Zezinho, me faz lembrar do tio Primo.

Após o exaustivo trabalho na loja ou na sorveteria, o violão alguém trazia e o tio se punha a tocar e cantar com a gente. Primo só no nome. Na verdade, por toda sua vida, sempre se colocou atrás.

Era ele o último a perder a paciência com a esposa ou com os filhos, o último a servir-se nas refeições para que as crianças pudessem escolher as melhores partes do delicioso frango assado, que a tia Anézia fazia com muita frequência.

A lógica de Deus é totalmente contrária à lógica humana, onde os maiores são servidos e o resto, é resto. Seu pedestal foi a humildade e sua grandeza o espírito de serviço. Sem nenhuma palavra, só com gestos e atitudes, ele me ensinou que para entrar na lógica de Deus, temos de ter sempre uma atitude de serviço.

Não importa o lugar que ocupamos, o importante é que Deus ocupe o primeiro lugar. Finalizando, agradeço ao tio por ter colaborado com a formação de meu caráter. Devo muito a ele que entendeu e colocou em prática as Palavras de Jesus. O tio Primo foi aquele que servia e que agora, merecidamente, é servido na glória eterna.

Fonte: O Mílite

Escrito por
Jorge Lorente
Jorge Lorente

Locutor da Rádio Imaculada, colunista e escritor de vários livros consagrados. Seu último lançamento foi a obra "Maria, mãe e mulher".

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