Por Ana Cristina Ribeiro Em Reportagem

Transformar lágrimas em alegria

Fernanda Bianchini era uma adolescente quando recebeu um grande desafio. Ela acreditou nas crianças, confiou em Deus para se capacitar e realiza uma obra fantástica


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Quando você iniciou esse trabalho?

A Associação Fernanda Bianchini transforma vidas há 26 anos. Começou em 1995 por um convite do Instituto de Cegos Padre Chico, de São Paulo. Eu tinha 15 anos e recebi o maior desafio da minha vida quando uma freira soube que eu era bailarina e perguntou se eu poderia ensinar ballet para as meninas cegas. Não havia uma metodologia para ensinar ballet para crianças cegas, mas meus pais, Clóvis e Vera, disseram: “Filha, nunca diga não para um desafio”. Essas palavras entraram na minha vida e no meu coração. Através dessas meninas e desses meninos aprendi a fechar os olhos preconceituosos da visão e olhar pelo olhar do outro, com os olhos do coração.

Como foi a experiência de ensinar mesmo sendo tão jovem?

Quando comecei não havia uma receita de bolo e nem uma metodologia que pudesse aplicar. Quando cheguei para a primeira aula pensei que as crianças estariam arrumadinhas, com sapatilhas e cabelo preso, por exemplo. Mas não estavam como eu esperava e me perguntaram quem eu era, o que era ballet e onde eu estava, por que não me viam. Percebi que não adiantava eu colocar a dança clássica no mundo delas, mas precisaria primeiro entrar no mundo delas. Ensinamos o que era o corpo e como ele se relaciona no espaço. Primeiro precisaram de exercícios corporais para perder o medo do movimento para depois começar o ballet clássico propriamente dito.

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Como foi a elaboração do método Fernanda Bianchini?

A metodologia juntou minha experiência como bailarina e a experiência das bailarinas cegas. O método foi publicado como minha tese de mestrado. Com essa visão da ciência foi possível que esse método se expandisse para diversos lugares do Brasil e também para outros países. Queremos ver a deficiência não como limitação para a pessoa, mas como característica. Esta é uma forma de levar um sim para quem já ouviu tanto não na vida.

Qual a realidade atual da associação?

São mais de 400 famílias tendo suas vidas transformadas por meio das artes. São pessoas com deficiências motoras, visuais, intelectuais e auditivas que são atendidas da infância até a terceira idade. As atividades gratuitas vão de Pilates a teatro, são variadas. Tem também o projeto Sementes do Futuro que traz empreendedorismo e protagonismo para as crianças. Acreditamos e confiamos que arte é capaz de transformar lágrimas em sorrisos.

Como é mantido esse trabalho?

A associação é mantida por incentivos à cultura de nível nacional, estadual e municipal. Há o projeto Adote uma bailarina no qual é possível promover o desenvolvimento de uma criança. Temos o projeto On-line sem fronteiras que proporciona aulas para crianças no Brasil e também do exterior por meio da internet. Em breve teremos um trabalho de saúde multidisciplinar em um novo prédio em São Paulo. O que leva você a acreditar? O que me inspira é transformar vidas, ajudar pessoas a se desenvolverem e encontrarem seus grandes propósitos e talentos. Meu maior objetivo é transformar lágrimas em sorrisos e oferecer oportunidades cada vez a mais pessoas. Quando levo o método Fernanda Bianchini para outra cidade não é só para levar informações, mas levo a possibilidade de que crianças cegas possam dançar e que professores possam se envolver nessa proposta de oferecer possibilidades globais para o desenvolvimento. Como você se sente com essas realizações? Me sinto muito feliz e muito grata. Sempre acreditei que todas as pessoas merecem oportunidade iguais para desenvolver seus talentos e dons. Esse projeto não é meu, é de Deus. Ele me capacitou e me chamou para mudar a vida de tantas pessoas. Quem mais ganhou e se transformou fui eu, pois ganhei um novo olhar para o mundo. Não vejo a pessoa com deficiência nem melhor e nem pior do que eu, mas igual. E acredito que precisamos, como sociedade, superar o preconceito.

Qual o papel da família na associação?

Sem o apoio dos meus pais e do meu marido, dos familiares e dos amigos, nada disso seria possível. Aliás, a associação é uma grande família de pessoas que divulgam e mantêm o projeto. Esse projeto não é só meu. É um exemplo para a sociedade de que as pessoas devem ter as mesmas oportunidades e que ninguém precisa desistir de seus sonhos. O trabalho na associação é totalmente voluntário. É um agradecimento por tudo que recebi na vida. Minha atividade profissional é como fisioterapeuta na clínica FisioBianchini, sou especialista em dor, microfisioterapia e coluna travada. Posso dizer que cuido do ser humano de forma integral.

Qual sua mensagem ao jovem leitor?

 Nunca desista dos seus objetivos. Tenha fé e acredite que tudo o que precisa para vencer está aí, dentro de você. O que falta em mim, tem de sobra em você, e quando nos unimos podemos transformar vidas. Quando você acende a luz do outro, a sua chama também se intensifica. Na associação percebi que as bailarinas estavam dançando melhor do que eu. Fiz com que elas pudessem ir além. Elas se tornaram melhores do que eu porque contaram com uma equipe muito boa. Isso me dá alegria e a gratidão é dom de Deus.

Escrito por
Ana Cristina
Ana Cristina Ribeiro

Graduada em Jornalismo e licenciada em Letras, atua no Departamento de Redação da MI como jornalista responsável pela revista "O Pequeno Mílite" desde 2016.

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