Há alguns anos atrás meu filho estava na casa de alguns amigos, eles estavam preparando ou consertando algum aparelho eletrônico e quando finalmente, após horas de trabalho o aparelho funcionou e meu filho exclamou: “habemus som”. Todos os outros rapazes não entenderam a referência e com algum espanto meu filho disse que a expressão era um jogo de palavras com Habemus Papam. O espanto foi maior ainda, porque os rapazes eram protestantes e para eles não fazia sentido a expressão “Habemus Papam”.
Agora venho perguntar a vocês, nós que conhecemos a expressão “Habemus Papam” sabemos como isso ocorre? Qual sua importância histórica? Como começou?
Para iniciarmos nossa conversa vou indicar um filme: Dois Papas. Com ótimos atores, diálogos e fotografia maravilhosos, esse filme é uma espécie de documentário com humor que nos apresenta a história do Papa Bento XVI (bispo da época) e o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, dois homens, com estilos muito diferentes de pensar, viver e amar a Igreja, mas que dedicaram à ela todas suas forças e habilidades.
Voltando ao nosso tema, Habemus Papam, devemos primeiro observar ou analisar o que é o Papa, a instituição, como tudo começou e por que permanece até hoje.
O Papa é o bispo de Roma – espaço geográfico onde fica a sede da Igreja Católica Apostólica Romana –, portanto o responsável por enviar ao mundo inteiro as linhas norteadoras, através dos temas de catequese, intenções nas orações, homilias, para que continuemos a ser Uno, Santo e Indivisível.
Atualmente estamos sob o cuidado e orientação amorosa de Sua Santidade, o Papa Francisco. Em minha vida eu presencie, segui, amei, ouvi, rezei por e continuo a rezar por, três papas, o Santo João Paulo II, o Papa Emérito Bento XVI e agora o Papa Francisco. Claro que não sou tão jovem, havia os papas anteriores, mas eu não era tão conectada com eles, não me lembro de rezar por eles todos os dias, de falar sobre eles, de saber de detalhes da sua vida. Essa proximidade de sabermos quem é o papa, seu nome anterior ao papado, sua origem, suas características é um fenómeno da tecnologia atual. Os meios de comunicação trouxeram para dentro da nossa casa e na nossa vida, informações, imagens, peculiaridades do homem que é sucessor de Pedro.
Como sabemos que o Papa Francisco é o sucessor de Pedro?
No Evangelho de Mateus, capítulo 16, Jesus afirma: “Pois também eu te digo; tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus… (Mt 16, 17-19)
Em um outro versículo bíblico encontramos um pedido de Jesus a Pedro: “Simão, filho de Jonas, amas-me? E ele respondeu: Sim, Senhor, Tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros (Jo 21, 15).”
Tendo em mente esse discurso podemos entender a importância do Papa em todos os períodos históricos, não somente em tradição mas como um mediador entre os homens para que possam ser apascentados no Amor de Deus.
No site do Vaticano se encontram informações sobre os papas, todos eles, uma pequena imagem e suas informações básicas estão ali disponíveis. Então temos uma linha que pode ser traçada desde Nosso Senhor Jesus Cristo até hoje, sabemos então a origem do Papa, mas como essa tradição se firmou?
No livro dos Atos dos Apóstolos, no capítulo 6, encontramos a seguinte passagem:
“Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e da sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da Palavra.” (At 6, 2-6).
Prestemos bem atenção, não foi dito que as necessidades diárias deveriam ser negligenciadas ou abandonadas, o que foi dito é: um grupo cuidará de orar/propagar a Palavra, e outro grupo será orientado pela Palavra até a ação Evangelizadora, nenhum grupo deixará de ser oração mas será direcionado ao serviço que lhe foi destinado.
Leia MaisPartilhar a verdade com o próximo4 palavras para agradecer e apoiar as vocaçõesDuas orações a se rezar com o Terço diário Papa confia-nos ao Senhor, por MariaOs Papas e o RosárioUsando a metáfora de São Paulo sobre o Corpo da Igreja, cada um é parte desse corpo que com os dons recebidos pelo Espírito Santo segue as orientações da cabeça a qual é Cristo para que possamos juntos levar a Palavra a todos.
“Foi Ele quem deu estes dons à igreja: os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores e os ensinadores. A responsabilidade deles é o aperfeiçoamento dos crentes para fazerem o trabalho de Deus e edificar a igreja, o corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade na fé e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, atingindo a maturidade completa conforme o modelo da pessoa de Cristo!" (Ef. 4, 11-16)
Provavelmente esse meu modo de explicar parece muito básico e pouco acurado cientificamente e realmente é. Existe um processo legal, histórico, metodológico e ritualístico para a sucessão papal.
Quando o Santo Padre João Paulo II faleceu eu chorei tanto que não conseguia ler a reportagem completa no jornal, como me comoveu, assim como comoveu milhares de pessoas no mundo. Foi estabelecido o luto, devemos honrar com nossas orações, escolhas, recolhimento a partida de quem amamos. Após esse período foi estabelecido o Conclave; o que significa um espaço geográfico, nesse caso específico, a Capela Sistina, onde os cardeais do mundo inteiro são chamados a participarem de um período de oração, silêncio e confidência. Sempre é um momento difícil, com muitas dúvidas e suposições: "quem será o próximo papa?" "Como saber se esse homem poderá comandar a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo?"
Por ser tudo confidencial, surgem muitas teorias e as famosas fake news. O que provavelmente deve ocorrer são pequenas divisões em grupos, aqueles que já trabalharam juntos, partilham o mesmo carisma, tem uma mesma origem, tendem a se reunir.
Até que seja anunciado o nome do novo papa muitas expectativas surgem, quem será, de onde vem…
Quando o anúncio do novo papa ocorre é sempre uma nova demanda por informações, junto com novas fake news. Recordo do anúncio do novo bispo de Roma quando foi o Papa Bento XVI, um alemão, tão diferente, tão discreto; e hoje com mais informações sabemos o quão valente ele foi e continua sendo.
Em sua visita ao Brasil o Papa Bento XVI ficou hospedado no Mosteiro de São Bento, no centro de São Paulo, ali eu vivi uma experiência única, tentei ficar no agrupamento de fiéis que ali se comprimiam para receber um aceno de mão, uma bênção mesmo que a distância e mesmo em alemão. Desenvolvi o conceito de muro humano, não havia espaço ali para movimentar-se, para erguer a mão, todos em silêncio na expectativa de observar, sentir, ouvir o que fosse do homem que nos lembrava a todo momento, somos parte de um corpo que caminha junto da história humana, não somos perfeitos, mas buscamos caminhar em consonância com o Amor de Deus por nós.
Com o passar dos anos fomos observando as dificuldades do corpo que envelhece, mas a mente contínua firme, destemida, e assim o Papa Bento XVI nos assombra com um gesto de coragem, renuncia pois ele entende que, a presença física é tão necessária ao corpo da Igreja como a presença emocional, mental, intelectual, devocional e ritualística. O corpo da Igreja necessita ser guiado, e o seu corpo frágil, tão avançado em idade não lhe permite estar em tantos lugares.
Eu, assim como milhões de pessoas, fiquei confusa com a notícia, admirada e sem saber como agir. Sua renúncia foi oficializada com uma última missa no dia 13 de fevereiro de 2013, chorei novamente, quão frágil estava esse homem que desde sua juventude sabia o que fazer, o que iria ser, em sua juventude, ele serviu o exercito alemão, o qual era obrigatório, em pleno período de exaltação do nacionalismo alemão, esse jovem de 18 anos anuncia que, deixará tudo e será padre. Os seus companheiros não entendem, padre? Tentam dissuadi-lo dizendo que o país necessita de soldados não de padres e o jovem Joseph Aloisius Ratzinger diz que o país após o fim da guerra necessitará muito mais de padres. Ele estava certo, e com a mesma confiança que entregou sua vida a Igreja, foi viver em oração e em silêncio.
A renúncia do Papa Bento XVI trouxe uma infinidade de suposições, anunciando desde o fim da Igreja até o fim do mundo.
O mundo não se acabou, e a Igreja está mais forte, importante, ativa e temos o Papa Francisco, que com seu jeito simples cativou o mundo. Com seu conhecimento intelectual estabeleceu novas diretrizes, com sua coragem enfrenta desde ameaças terroristas a ofensas contra a Mãe Igreja, com a situação atual do mundo, em pandemia, o medo, o sofrimento e a constante insegurança tiveram lugar na vida de todos nós. Está sendo o Papa Francisco que nos oferta conforto, com suas palavras, nas audiências gerais, a oração do Angelus aos domingos, na transmissão da Santa Missa, a Igreja resplandece com a vontade de ser o corpo do Deus Vivo.
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