Por uma fé sem rótulos

Eliésio sentia-se estranho. Conforme os questionamentos ganhavam força, a incerteza crescia em seu coração. O que ele estava fazendo de sua vida? Por que não o davam o devido valor?

Há 16 anos, Eliésio trabalhava na Milícia da Imaculada como operador de áudio. Quando ele começou a atuar na Rádio Imaculada Conceição 1490 AM, fazia pouco tempo que tinha sofrido um grave acidente e se tornado deficiente visual. Na época, Eliésio recebeu a proposta de emprego como uma oportunidade de recomeçar sua carreira profissional e renovar suas esperanças.

Naquele ambiente cheio de espiritualidade, o operador pode estreitar os laços com Nossa Senhora que ele já conhecia desde pequeno, mas ele ainda não a sentia tão próxima dele como mãe que Ela é.

Os anos foram passando e Eliésio se esforçava para aprimorar o dom de evangelizar. Contudo, as dificuldades da vida foram criando barreiras que pareciam intransponíveis e aquilo que ele fazia com vigor foi perdendo o brilho. Um conflito espiritual foi se formando e dúvidas, como no que acreditar, passaram a nortear sua vida.

A partir dali, Eliésio passou a frequentar uma igreja evangélica. Por um longo tempo, sentiu que o seu dom estava sendo valorizado, mas logo essa sensação era substituída por um mal-estar. As pessoas que antes se diziam amigas, quando o viam na rua, mudavam de calçada ou perguntavam para ele o que tinha acontecido com aquela fé tão fervorosa que ele professava. Eliésio sabia que essas pessoas achavam que, por frequentar outra religião, era como se ele estivesse renegando tudo que um dia tinha testemunhado. Por outro lado, Eliésio não entendia o porquê daquela revolta de todos. O mesmo Deus estava presente em todos os lugares, então, por que o tratavam daquela forma? Eliésio tornou-se triste. A situação se tornava ainda mais dúbia, pois apesar dele professar a fé de uma outra forma, continuava trabalhando na Milícia da Imaculada e tinha o contato diário com Nossa Senhora.

Eliésio passou a rezar o terço todos os dias pedindo a Deus e a Nossa Senhora discernimento e forças para passar por essa situação e, assim, ele percebeu que Nossa Senhora continuava sendo uma parte muito importante de sua vida.

Num dia, em oração, Eliésio pediu um sinal do que deveria fazer. No dia 20 de novembro de 2016, domingo à tarde, Eliésio estava se arrumando para ir à Cúria da Diocese de Santo André - SP, para transmitir o encerramento do Ano da Misericórdia e o fechamento da Porta Santa, quando, ao colocar a mão no bolso, retirou de lá uma Medalha Milagrosa. Momentos antes, o operador estava agoniado por ter que transmitir um evento católico sendo que se sentia evangélico. Sentia-se como se estivesse vivendo fragmentado. Na hora que retirou a medalha do bolso, soube que aquele era um sinal, mas, assim como Tomé, ele precisava ver para crer. Só aquilo não era suficiente.

Durante a transmissão na Catedral do Carmo, Dom Nelson, bispo emérito de Santo André - SP, se aproximou do operador e falou seu nome. Surpreso, Eliésio ouviu o bispo dizer que ele era muito importante para a Igreja Católica e para o projeto de evangelização da Milícia da Imaculada. Aquelas palavras o tocaram profundamente e Eliésio soube que era a confirmação de que ele precisava para voltar para a Igreja Católica.

Depois disso, Eliésio procurou o Padre Maximiliano Mota, Missionário da Imaculada-Padre Kolbe, para conversar. Sob sua orientação, decidiu voltar à fé católica no dia 27 de novembro, pois era uma data muito especial, dia da Medalha Milagrosa. E dia 27 de julho também era o dia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira da comunidade à qual ele pertencera durante toda a vida.

Essa experiência fez de Eliésio um homem de fé, não uma fé rotulada por ser católico ou evangélico, mas uma fé sustentada na confiança em Deus. O dilema de Eliésio não se tratava sobre qual religião frequentar, mas o seu lugar na evangelização, que sempre foi ao lado de Nossa Senhora.

Neste tempo pascal, Eliésio sente que renasceu para uma nova vida como Jesus fez, porque as vezes temos que morrer para as coisas velhas a fim de entender o que é o novo.