“uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça”
Cultura

Um sinal no céu

“uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça”

Paulo Teixeira

Escrito por Paulo Teixeira

17 MAR 2020 - 13H46 (Atualizada em 17 AGO 2021 - 10H14)

Sinal no céu

No livro do Apocalipse, no capítulo 12, se fala de um grande sinal que apareceu no céu. Trata-se de “uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça”.

Esta mulher, no decorrer do capítulo, entra em conflito com um dragão. Os primeiros cristãos interpretavam esta figura feminina tanto como sendo a Igreja e também Maria, a mãe de Jesus.

É relevante que a mulher está em trabalho de parto. Esta figura encontra reflexo no Antigo Testamento em Isaías (66,7) que fala do nascimento de um menino e de um povo.

Os astros adornam a mulher. A lua sob os pés e as estrelas como coroa revelam uma superioridade e a coloca em oposição à figura de uma mulher prostituta que aparece no capítulo 17 do Apocalipse com suas jóias.

A poetisa mineira Adélia Parado também fala de um sinal no céu nestes versos:

Sinal no céu

É um tom de laranja

sobre os montes

um pensamento inarticulado

de que a Virgem

pôs o mundo no colo

e passeia com ele nos rosais.

Adélia Prado expressa uma visão, um encontro ou, melhor dizendo, uma experiência sobre a Virgem Maria, colocando como cenário da poesia o entardecer. A tradicional hora do Angelus não é só cronológica às 18h, mas é, sobretudo, um tempo experiencial de transição do dia para a noite. Adélia descreve a cor do céu e fala de sua posição sobre os montes. Na verdade, este não seria um sinal de um céu distante, mas do céu que toca a terra, do horizonte.

Quando Adélia Prado escreve “pensamento inarticulado” entra no campo da experiência mística que se caracteriza justamente por ser obra do sentimento e da razão, é clara no pensamento e na intimidade da pessoa, mas não é articulada em palavras ou discursos. As orações podem ser consideradas pensamentos articulados com palavras milenares, mas a oração interior é inarticulável, uma experiência íntima e única.

Neste cenário de entardecer com uma experiência inexprimível, Adélia Prado apresenta a figura da Virgem Maria. Conhecida como a Mãe de Jesus, mas também mãe de todos. Da mesma forma como no livro do Apocalipse a mulher é compreendida como a Igreja e Maria ao mesmo tempo, assim também esta figura poética é Maria, mãe de Jesus e ao mesmo tempo a Igreja que acolhe todos os homens.

O mundo, com todas as suas contradições e conflitos, os homens e mulheres com suas alegrias e esperanças, estão no colo da Virgem. Seguros e passeando por entre rosas. Uma característica da poesia de Adélia Prado é a transcendência que aqui se revela com clareza. Todo o cenário do entardecer, a circunstância do pensamento inexprimível e as figuras de Maria e do mundo, são colocadas no cenário dos rosais evocando serenidade, paz, fecundidade, suavidade, abundância.

Escrito por
Paulo Teixeira
Paulo Teixeira

Jornalista formado na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM), atua como editor responsável das revistas O Mílite e Jovem Mílite há mais de quatro anos. É autor do livro "A comunicação na América Latina".

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