Reportagem

Crimes Digitais

O que são e como se proteger de criminosos da internet.

Ana Cristina

Escrito por Ana Cristina Ribeiro

11 JUL 2023 - 00H00 (Atualizada em 19 JUL 2023 - 11H23)

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A revolução da tecnologia trouxe grandes avanços para as nossas vidas. Mas como tudo que representa progresso, o mundo eletrônico também tem seus perigos, como os crimes digitais que tem tido grande avanço nos últimos anos. Durante a pandemia os crimes eletrônicos cresceram 175% . Crimes digitais são qualquer atividade criminosa perpetrada com uso direto ou recurso computacionais, ou meramente eletrônicos, visando pessoas, sistemas ou os dados nele contidos. Em suma, o crime digital é um crime que usa o meio digital para ter algum intento.

Quando alguém invade uma conta bancária é um crime digital, quando alguém xinga uma pessoa na internet também é crime digital, como também ataques e sequestro de dados é um crime digital, então temos em todos os espaços da sociedade crimes digitais sendo possíveis. Para o professor e pesquisador em crimes eletrônicos, direito digital e privacidade, Marcos Tupinambá os crimes mais prejudiciais à sociedade são o que a pessoa sofre: “Se for falar em números de crimes contra honra, como as ofensas, são altíssimos, mas eles são os que mais afetam a sociedade? Seria desleal dizer qual crime afeta mais a sociedade. O crime que bate à porta é o que mais afeta quem sofre.Cada crime vai gerar uma dor diferente para cada pessoa e essa dor também deve ser dos órgãos do Estado para poder combater e proteger o cidadão cada vez mais.” 

Divulgação
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Marcos Tupinambá é professor e pesquisador em crimes digitais.


Uma pesquisa de 2022, realizada por uma empresa americana, aponta o Brasil como o terceiro país com mais dispositivos infectados por ameaças. De acordo com a análise, mais da metade, 58% dos brasileiros entrevistados, afirma ter sofrido um crime digital em 2021. Roubo de senhas bancárias, cobranças fraudulentas, fraude de e-mail são crimes eletrônicos que acontecem com frequência, como reforça Marcos: “Primeira coisa que devemos pensar é na construção de senha. Muitas vezes anotamos uma senha e deixamos colada no token que o banco nos manda. Fica prático, mas não é ideal. O objetivo não é ficar prático, porque ali você acaba matando dois sistemas de segurança. A senha bancária tem que ser efetiva. Uma senha que não tenha ligação com os seus dados. Por exemplo: se eu coloco a minha data de nascimento é obvio que ela não é uma boa senha. Se eu reciclo uma senha utilizada em outro serviço também não é uma boa senha.” Cobranças fraudulentas também podem ser evitadas: “Há alguns anos o Banco Central obrigou a mandar o CPF para que eles pudessem mandar uma cobrança registrada. Toda vez que você pagar uma conta, por mais que você a pague todo mês, veja o nome do beneficiário. Não é quem eu estou esperando, então é uma fraude”, reforça Marcos. Sobre os golpes por e-mail, no início da internet comercial no Brasil, já se falava que os links eram a maior fonte de acesso para criminosos. E até hoje essa é uma porta para que eles tenham acesso e o banco vai te mandar e-mail. Links com promoções ou com fotos de artistas são uma porta para esses criminosos. Tudo que chega precisa ser lido e avaliado com cautela. Isso é legítimo? Precisa ler com cuidado, prestar atenção nos detalhes e ver se aquilo não está buscando informações pessoais. Normalmente quando você clica no link ele pede para você baixar um complemento e é nesse momento que acontece a invasão.”

Cuidado com os golpes eletrônicos

O mecânico José Ferreira Rosa foi vítima de uma cobrança fraudulenta e ainda não recuperou o dinheiro perdido. Aos 50 anos entrou para a estatística de vítimas de um dos golpes mais comuns da internet, o do boleto falso: “Por estar no site oficial da empresa que me cobrou, achei que não seria golpe. Efetuei o pagamento do boleto do plano médico do meu pai e não prestei atenção no nome do recebedor . Foi esse o erro que cometi, pois o dinheiro não foi para onde eu esperava.” José quase perdeu o plano de saúde e isso colocou em risco o tratamento de câncer que o pai dele está fazendo: “Tive que efetuar o pagamento novamente para que o meu pai não perdesse o plano de saúde. Fui atrás de ser ressarcido pelo plano, mas eles alegaram que não era responsabilidade deles e sim minha.” Leia MaisJunho Verde: o cuidado com a casa comumPromoção Fidelidade: Nossa Senhora, Virgem do SilêncioO tempo não paraNós somos para sempre consagrados

Mais de 3,7 mil tentativas de fraudes eletrônicas acontecem por minuto no Brasil, o colocando como o quinto país em crimes cibernéticos no mundo. A analista de comunicação Mariana de Almeida Marques, de 29 anos, foi vítima por duas vezes pela mesma quadrilha criminosa: “Chegou em casa um motoboy com um suspeito presente para a minha tia que estava fazendo aniversário. Curiosamente, ele sabia todos os dados dela e o presente era supostamente de uma marca conhecida. O motoboy alegou que só entregaria o presente mediante a uma taxa de recebimento de R$5,00.” Mariana tentou pagar em dinheiro a taxa exigida pelo entregador, mas ele se negou a receber em dinheiro e só aceitaria se fosse em cartão de débito ou crédito: “Liguei para a minha tia e ela achou que o presente era de algum conhecido e mandou eu receber. Fiz o pagamento via cartão de débito, no momento que fui digitar a senha, o cara deixou a maquininha cair no chão e de repente o leitor ficou preto e me cobraram R$ 1.500,00”. A analista de comunicação chegou a abrir um boletim de ocorrência para conseguir ser ressarcida pelo banco. Realizou os trâmites legais para que não ficasse no prejuízo, mas a fraude não parou por aí. Ao abrir uma reclamação nos canais formais, Mariana sofreu outro golpe do mesmo grupo criminoso: “Recebi um e-mail falso da empresa que supostamente presenteou minha tia falando que eu seria reembolsada e pediram meus dados. Nesse momento eles tentaram acessar a minha conta bancária e roubar meu dinheiro. Sofri dois golpes da mesma quadrilha. O dinheiro a gente recupera, mas o abuso psicológico que sofri ficará para sempre”, concluiu a jovem. 


Ataques intímos

Uma situação gravíssima que tem ganhado espaço nas plataformas digitais é questão da pedofilia e também o assédio sexual pela internet. Dados de 2020 indicam que aproximadamente 320 crianças e adolescentes são abusados sexualmente por dia no Brasil, ou seja, cerca de 70% de todos os casos que envolvem abuso sexual no país. Neste cenário, uma ferramenta capaz de favorecer esse abuso, seja por meio de propagação de fotos ou de contato contínuo, é a internet: “Os casos de pedofilia sempre existiram, a internet só os tornou visíveis. Só os expôs e os reuniu. Há duas categorias: crianças e adolescentes. Todos os aparelhos de celular têm o modo infantil. Você ativa e coloca para funcionar o controle familiar que já vai barrar um monte de coisas. Vigilância eletrônica é a melhor opção. As crianças têm que ser orientadas. Existem vários vídeos educativos que poderão orientar de forma lúdica suas crianças. Sempre falar sobre os cuidados em tudo, inclusive na internet. Para o adolescente pode-se falar mais claramente. Explicar como é o mundo e os perigos que ele oferece. Que a pessoa fantástica que ele está conversando é muito mais velha, que ele está tentando atraí-lo para fazer alguma maldade contra ele. Os pais devem estabelecer uma relação de confiança, mesmo com os desafios dessa fase, para que eles sintam nos pais um porto seguro. A educação digital é fundamental”, enfatiza Marcos.

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
Mariana de Almeida Marques foi vítima de golpes digitais por duas vezes da mesma quadrilha.

Segundo dados publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, 85% das crianças e adolescentes brasileiros já são usuários da internet. Para Sandra Regina Cavalcante, professora de direito do trabalho e dos vulneráveis, e autora da obra coletiva “Eca – entre a afetividade dos direitos e o impacto das novas tecnologias”, o acesso à internet para crianças e adolescentes devem ser monitorados pelos pais: “O problema maior não é o tempo que se usa internet e sim o que se consome na internet. Até que ponto é prejudicial ao desenvolvimento do meu filho? Os pais precisam se informar quais são os acessos positivos para os filhos. A internet é uma potência para o bem e para o mal e, por isso, tem que fiscalizar os acessos que eles fazem. Estar atento ao que a internet tem de bom para oferecer e mostrar esse caminho para os nossos filhos.” A escritora também reforça que o uso da internet deve ter limites e isso faz parte de uma conciência digital que deve partir dos pais e da escola: “Não há uma lei que determine limites para exposição da internet para criança e adolescente e, por isso, a importância de os pais estarem atentos ao que os filhos andam acessando. Está sendo atualizada as leis de acesso à internet por crianças e adolescentes e também o uso de rede social para essa faixa etária. Consciência digital é algo que deve partir de casa e a escola deve complementar essa educação. Mas para isso acontecer é preciso que haja políticas públicas para fortalecer as leis de proteção e acesso digital e também a atualização da legislação no que diz respeito ao acesso à internet de maneira segura.”  


Cyberbullying e discurso de ódio

O cyberbullying tem ganhado muito espaço na realidade digital. Exposição vexatória, perseguição, humilhação, intimidação, calúnia e difamação são as características desse crime que tem maior incidência entre os adolescentes. Atenção e diálogo são essenciais para conseguir identificar se o filho está sofrendo bullying pela internet como aponta Marcos: “Os pais precisam estar atentos ao comportamento do filho.

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Sandra Regina Cavalcante ressalta que o perigo não está no tempo de uso de internet, e sim no conteúdo consumido pelas crianças e adolescentes na Web.

Se ele era extrovertido, tinha bom relacionamento e ficou muito introspecto, foi murchando, vai se encolhendo fisicamente é porque tem algo muito errado com ele. Começa a se negar a ir para escola, começa usar roupas longas mesmo no verão. Desenvolve a síndrome de autoflagelo. É essencial olhar seu filho, perceber se tem algo diferente com ele, se aproximar dele, dar apoio, pedir apoio da escola e ficar atento a todos os sinais.” Sobre como denunciar esses e outros crimes eletrônicos Marcos salienta: “Existem várias delegacias especializadas em crimes digitais, mas você pode procurar a mais próxima de você que lá eles irão encaminhar para a delegacia ideal para o seu caso. O importante é não deixar passar. Você notificar o crime é fundamental para que se possa fazer um planejamento de segurança pública e o governo poder entregar o melhor para a população.”

Fonte: O Mílite

Escrito por
Ana Cristina
Ana Cristina Ribeiro

Graduada em Jornalismo e licenciada em Letras, atua no Departamento de Redação da MI como jornalista responsável pela revista "O Pequeno Mílite" desde 2016.

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